Editora critica apreensão de livro pela policia do Rio

POSTADO POR: admin seg, 01 de julho de 2013

O movimento punk rock é um conceito cultural que surgiu na década de 70 com uma serie de costumes, tradições e ideologias que conquistaram milhares de jovens desiludidos daquela época. 
Hoje, o punk ainda exerce uma inegável influencia na moda, comportamento e música mundial, sempre mantendo seu estilo contestador. 
Não é a toa que foi definido como O mais incompreendido fenômeno pop’ pelos autores Legs McNeil e Gillian McCain em seu livro “Mate-me por favor”. A obra narra as raízes do movimento punk rock, contadas através de entrevistas com as grandes personalidades do gênero, como Lou Reed, Iggy Pop e Dee Dee Ramone.
Livro este que inexplicavelmente acabou fazendo parte do material apreendido na residencia de um dos suspeitos que tentaram invadir a Alerj nas primeiras manifestações no Rio de Janeiro.
‘O livro foi apreendido para demonstrar a ideologia (do acusado) perante a nação brasileira, de defesa da anarquia’ – disse o delegado Mario Andrade, responsável pela investigação do caso.
Uma ignorância que já vimos muitas vezes ser empregada contra livros de RPG e similares.
Um dos editores da editora L&PM, responsável pela publicação da obra aqui no Brasil, acabou publicando em seu blog uma ríspida crítica à apreensão do exemplar. 
No texto ele remete aos anos de ditadura, onde cita a família como exemplo quando militares invadiram a sua casa e apreenderam vários livros da biblioteca de seu pai.
Veja abaixo a crítica do editor:

“Meu pai era um inimigo da ditadura militar de 1964. Por isso nossa família sofreu vários tipos de intimidações e perseguições. Minha casa foi invadida várias vezes pela repressão. A que mais me marcou foi o dia em que a polícia política (Dops) invadiu nossa casa e prendeu centenas livros da grande biblioteca do meu pai. “Vamos queimar esta imundície comunista”, dizia o delegado, jogando ensaios de Marx e Schopenhauer numa caixa de lixo.
Ontem, eu vi um delegado exibindo na TV um livro publicado pela L&PM Editores: “Mate-me por favor”, dos jornalistas e críticos musicais Legs McNeil e Gillian McCain, apreendido na casa de um suposto vândalo.

Não me interessa o que o rapaz fez. Mas o que me chamou a atenção foi a naturalidade com que o delegado apreendeu o livro. Um delegado que não serve a uma ditadura e apreende um livro é porque tem a vocação do autoritarismo. E nenhum respeito por um livro. “Mate-me por favor” é um livro maravilhoso, editado por minha indicação. Não faz a apologia da violência. Muito pelo contrário. Ele trata de jovens que foram abandonados pelo sistema e elegeram a música como uma forma de protesto. E esta música foi uma bofetada no sistema. Esta música fez com que os delegados e os políticos voltassem os seus olhos para uma enorme legião de jovens sem futuro e sem emprego nos idos dos anos 80. A L&PM Editores, meu caro delegado, já foi vítima durante sua história nos anos sombrios da ditadura de vários delegados que odiavam livros.
O que me surpreende é que um bom livro seja alinhado junto a facas e correntes e exibido na TV como se fosse uma arma. E ninguém diz nada. Lembrou-me do tira ignorante que invadiu a casa do meu pai nos anos 70 para prender os “livros comunistas”. Ele não teve dúvidas; atirou-se na estande e pegou ‘O vermelho e o negro’, de Stendhal, como um símbolo desta “corja vermelha que quer tomar conta do país…”