Desvendando a franquia Jogos Mortais

POSTADO POR: admin qua, 28 de maio de 2014

Jogos Mortais (Saw)
Diretor: James Wan (Gritos Mortais, A Invocação do Mal)
Roteiro: Leigh Whannell, James Wan
Ano: 2004
País: EUA, Austrália
Atores: Cary Elwes (Twister), Leigh Whannell (Sobrenatural), Danny Glover (A Cor Púrpura, Máquina Mortífera)
Quando lançado, Jogos Mortais causou um frenesi. As pessoas conversavam sobre, diziam ser aterrorizante e indo além dos jogos, quase sempre terminavam falando sobre uma determinada cena. A ideia de pessoas presas a armadilhas e obrigadas a tomar decisões que resultariam em automutilação e dor conquistou o grande público, além de vincular a obra a muitos adjetivos facilmente citados quando se está no centro do sucesso.
Ao assisti-lo pela primeira vez, várias coisas me chamaram a atenção. O reassisti algumas vezes e, novamente, toda a franquia (Até então sete filmes), desta vez sem interrupção.
Jogos Mortais, que tem como nome original Vi (do verbo ver), dá mais ênfase à ideia principal de quem é observado e acaba, por alguma razão, tendo de pagar por algo que cometeu, do que o título eternizado em nosso país. Além disso, traz de volta a tortura dentro do gênero, ou melhor dizendo, autotortura, que nada mais é que o pagamento por determinadas ações e condutas. Tal questionamento faz sentido, é inteligente e inovador, aliado a um excelente jogo de planos de câmera que brinca com a percepção do espectador ao longo do filme. O mesmo quanto algumas sequências, fortemente impressas no imaginário do público, como os momentos finais envolvendo um dos aprisionados e o boneco de ventríloquo Jigsaw, responsável por proteger a identidade do verdadeiro assassino. Este pequeno que facilmente aparece pedalando em seu triciclo encontra-se junto ao grupo de personagens/assassinos que perpetua o gênero na mente de uma quantidade incontável de espectadores, tornando-se referência.

Pessoas são raptadas e colocadas diante de armadilhas que exigem delas todo tipo de automutilação. Obtendo sucesso, conseguem se salvar. Caso não, morrem. As vítimas são escolhidas a dedo. Todas têm o que há de melhor na vida: saúde e uma vida que poderia ser o que eles bem entendessem. Mas escolhem um caminho errado, fazendo mal ao outro e tentando acabar consigo dentre as infinitas possibilidades. Essa é a ideia que move Jigsaw, tentar acordar essas pessoas que não valorizam a própria vida e, caso sobrevivam, repensem seus próximos passos, iniciando uma nova conduta.

Seria Jigsaw um novo slasher? Tecnicamente não, pois ele coloca as pessoas diante de escolhas. Não existem mentiras. A salvação está ao alcance e depende unicamente delas sua sobrevivência, além dele não sentir nenhum tipo de prazer com essa tortura, podendo leva-lo a um caminho “voyeur”. Nada disso, o foco de Jigsaw é um somente, utilizando meios violentos para “acordar” as pessoas.
Mas infelizmente, ao longo da obra, vemos que o filme é, na verdade, uma grande colcha de retalhos. E isso incomoda bastante, devido todas as ideias inteligentes, instigantes e originais apresentadas de forma rasa e da pior maneira possível, como que usadas unicamente como pano de fundo para os litros de sangue e automutilações.

A partir do momento em que ideias tão interessantes que poderiam levar o trabalho a patamares muito mais elevados são utilizadas de forma quase boba, torna-se, para mim, um filme dispensável.
Por isso, enxergo o grande sucesso de Jogos Mortais devido à captação do grande público para tais ideias. Se não, seria somente mais um filme violento, daqueles que impactam visualmente, mas ao término, ninguém se lembraria de tê-lo assistido. Não acredito que, nos dias atuais, uma obra fizesse tamanho sucesso somente por ter tal violência e nada mais. Afinal de contas, não é preciso ir longe para encontrar filmes do gênero muito mais violentos e viscerais, certo?
Outro trabalho que encaixaria perfeitamente neste texto é o também famoso Atividade Paranormal. Apesar da distinção, o caminho percorrido é o mesmo.
Jogos Mortais é um daqueles filmes que esteve a um pequeno passo de ser algo único. Um personagem instigante. Uma imagem que já percorre o imaginário das pessoas quando pensam em terror. Um título que já se tornou referência para outros (ahh, deve ser tipo Jogos Mortais…), mas que, infelizmente, por não ter o devido tratamento, tornou-se um trabalho qualquer.
Uma pena.
Curiosidades:
-Foi filmado em 18 dias.
-Todas as cenas do banheiro foram filmadas em ordem cronológica a fim de que os atores sentissem mais intensamente pelo que seus personagens passavam.
-Danny Glover filmou todas as suas cenas em dois dias.
-Não existem tomadas externas pois a produção não podia arcar com tal.
-O boneco Jigsaw foi completamente construído para o filme, e não comprado e modificado.
-Originalmente feito para o vídeo, após algumas exibições positivas, foi dada permissão para que fosse lançado no cinema.
-Charlie Clouser compôs a trilha em três semanas.
-O único filme da franquia que não foi filmado em Toronto, Canadá.
E qual o pensamento que tirei sobre?
Jogos Mortais mostra que o público anseia por excelentes e novas ideias, mesmo que mal trabalhadas.
Você confere o trailer aqui: