Conversa fiada da velha guarda

POSTADO POR: admin ter, 24 de janeiro de 2012

Não sei se é porque eu tenho cara de donzelo ou qualquer outra coisa do tipo, mas todo coroa quando está batendo um papo comigo diz que quando tinha mais ou menos a minha idade comia todo mundo. É impressionante. Pode ser um véio pobre, feio, magro ou gordo, basta ter mais que 45, ele vai me olhar e dizer que foi o maior comedor que já andou por essas terras. Teve até um tio meu que abriu a boca pra dizer que se as ‘nêgas’ que ele já comeu ficassem em fila e dessem as mãos, iriam de Recife até Caruaru (cerca de uns 130km).
Com passar do tempo eu fui percebendo que eles são assim com tudo: nossa música era música de verdade, pica-pau é que era desenho animado, esse time nem se compara ao Ferroviário de Ribeirinho de 1972… E por aí vai. Acho que não preciso nem dizer que eles falam que tudo pra eles era mais difícil, né? A gente tinha que andar 32km pra chegar na escola, almoçávamos sem saber se teríamos janta, todo mundo servia ao exército… E também vai por aí.
Outra coisa, eles nunca estão errados. Nunca! Até quando eles caem numa contradição que eles mesmos criaram, do nada inventam uma mentira para explicar a parada. Por exemplo, certa vez perguntei ao meu tio como ele havia conseguido comer tanta gente se naquela época as mulheres se ‘davam mais valor’. Ele parou, fez cara de filósofo e disse: é que eu era um rapaz muito bem apessoado e fui guitarrista de uma banda de rock, choviam mulheres em cima de mim.
Os exemplos são inumeráveis, você mesmo deve estar lembrando causos semelhantes. Eu já me decidi, não vou ser assim nem a pau. Por mais que digam que isso é natural, que toda geração acha que sua juventude foi melhor que a da seguinte, que nós vamos aos poucos perdendo a capacidade de entender os jovens… Eu não vou ser um véio desses. Pronto! Como poderei eu chegar pro meu filho –que ainda nem existe– e dizer que o desenho animado dos astronautas cowboys e lutadores de MMA que ele está assistindo são mais sem lógica que os da minha época? Porra! Eu assistia Super Campeões. Os moleques jogavam bola num campo que devia ter uns 3 quilômetros de comprimento. Eu vibrava com Power Rangers. Tem coisa mais bizarra que aquilo? Como é que Alameda dos Anjos é reconstruída tão rápido? Por que o monstro não já chegava gigante pisando em tudo? Não temos envergadura moral pra falar nada. Vai dizer que você nunca foi em uma festinha que tava rolando É o Tchan no Hawaii? Quem não curtiu uma música bizarra que atire a primeira pedra! Pode ser um funk, um brega ou até mesmo uma música do Calypso.
A parada pra viver em harmonia com as próximas gerações é simplesmente não fazer comparações. Nem tente imaginar como seria legal se na sua época de secundário, você pudesse chamar as menininhas da sexta série de novinhas e pega-las pra dançar brega, já sabendo que poderia conseguir transar apesar da pouca idade.
Também nem pense que a geração atual de gays pode ser um fruto direto de desenhos como os Teletubbies. E que o rock nacional dos dias de hoje nem merece ser chamado de rock. E jamais fale que o engajamento político dessa geração é puramente da boca pra fora, que só há alguns gatos pingados que realmente fazem alguma coisa além de compartilhar dizeres carreados de mimimi no Facebook…
Caralho! Eu já estou parecendo um velho falando. Melhor começar a escrever as minhas próprias mentiras.