Conheça alguns clássicos da Literatura Gótica

POSTADO POR: admin seg, 13 de outubro de 2014

O gênero Gótico pode ser considerado por muitos, tão morto quanto o Latim. Tendo o seu auge entre o final do século XVIII e início do século XIX, hoje em dia o seu legado mal é lembrado e talvez nunca tenha chegado a ter uma seção só sua nas livrarias. Mas, ainda assim, o estilo nunca deixará de ser uma base essencial para inúmeras características da literatura moderna.

Como de praste, as obras góticas sempre mantiveram muitos aspectos que se destacam, como algumas das principais características desse tipo de literatura, os cenários medievais (castelos, igrejas, florestas, ruínas), os personagens melodramáticos (donzelas, cavaleiros, vilões, os criados), e os temas e símbolos recorrentes (segredos do passado, manuscritos escondidos, profecias, maldições). Mas ainda acho que sua maior contribuição para a literatura é o uso da psicologia do terror pessoal (o medo, a loucura, a devassidão sexual, a deformação do corpo), do imaginário sobrenatural e das reflexões políticas e religiosas de seu tempo.
Embora a palavra “gótico” possa evocar alguns estereótipos sombrios contemporâneos, na verdade ela é um adjetivo que se refere a tribo dos Godos, povo de cultura germânica que habitava a região do baixo Danúbio. No passado, o título de “gótico” podia ter diversas conotações, dependendo do lado a discussão em que se estava. Variando de contexto a palavra podia conotar Jacobinismo, ocultismo e envolvimento com sociedades secretas, nacionalismo inglês conservador, nostalgia do mundo feudal, medo da revolução e uma série de outros significados antagônicos entre si. Apesar de ser um movimento multi-facetado, reflexo de conjunturas históricas e políticas, pode-se notar que a literatura gótica é, em grande parte, uma literatura ligada ao terror e ao medo.
Evitando alguns livros óbvios do estilo (como DráculaFrankenstein e outros) que já debulhamos aqui em outras oportunidades, separamos abaixo algumas grandes obras da Literatura Gótica que compõem esse antigo estilo
✔  Vathek, de William Beckford 
Verdadeiro clássico da literatura mundial, Vathek é uma novela célebre pela inventividade, estilo e familiaridade com a cultura oriental. Através desta história temos acesso a um impressionante mundo ficcional. 
A tragicômica jornada do califa Vathek, monarca generoso, mas imprevisível e inquieto (dizem que quando se irritava um dos seus olhos tomava um aspecto tão horripilante que ninguém ousava encará-lo) constitui-se numa sucessão de acontecimentos insólitos onde intercalam-se cenas de magnificiência oriental e beleza evocativa, detalhes da vida amorosa nos haréns e incidentes raros, extravagantes, às vezes selvagens, repletos de entidades sobrenaturais, rituais de magia negra com sacrifícios humanos, vampiros, luzes misteriosas; um clima de 1001 Noites com argumento delirantemente inventivo que fez Jorge Luis Borges considerar esta novela “o primeiro inferno realmente atroz da literatura, anunciando os esplendores satânicos de De Quincey e Poe, de Baudelaire e Huymans”.
✔ A Volta do Parafuso, de Henry James
Irmão do filósofo William James, o escritor Henry James, nascido nos Estados Unidos e naturalizado britânico, foi um dos grandes expoentes da literatura realista. Na inspiração e na temática, sua obra oscilou entre a cultura americana e a britânica, pela qual sentiu desde jovem grande afinidade. Henry James foi um escritor extremamente prolífico.
Consideradas uma ponte entre o romance do século XIX, suas obras constituem um permanente estudo psicológico de uma civilização corrompida pelo afã de riqueza, cuja única salvação reside no reconhecimento de suas formas de vida e dos valores culturais e morais tradicionais. Na desconcertante A Volta do Parafuso (1898), Henry James atinge sua expressão máxima como romancista. A obra tornou-se um modelo da narrativa do terror psicológico.
✔ As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley 
A Senhora da Magia, A Grande Rainha, O Gamo-Rei e O Prisioneiro da Árvore são os quatro volumes que compõem As Brumas de Avalon – a grande obra de Marion Zimmer Bradley -, que reconta a lenda do rei Artur através da perspectiva de suas heroínas. 
Guinevere se casou com Artur por determinação do pai, mas era apaixonada por Lancelote. Ela não conseguiu dar um filho e herdeiro para o marido, o que gera sérias conseqüências políticas para o reino de Camelot. Sua dedicação ao cristianismo acaba colocando Artur, e com ele toda a Bretanha, sob a influência dos padres cristãos, apesar de seu juramento de respeitar a velha religião de Avalon. 
Trata-se, acima de tudo, da história do conflito entre o cristianismo, representado por Guinevere, e da velha religião de Avalon, representada por Morgana. 
Ao acompanhar a evolução da história de Guinevere e de Morgana, assim como dos numerosos personagens que as cercam, acompanhamos também o destino das terras que mais tarde seriam conhecidas com Grã-Bretanha. 
As Brumas de Avalon evoca uma Bretanha que é ao mesmo temo real e lendária – desde as suas desesperadas guerras pela sobrevivência contra a invasão saxônica até as tragédias que acompanham Artur até a sua morte e o fim da influência mítica por ele representada.
✔ O Coração das Trevas, de Joseph Conrad
Tensões antagônicas afloram na obra de Joseph Conrad: idealista, ele deixa entrever um conservadorismo político sem ilusões ao seu amor à ordem e às instituições soma-se o fascínio pela figura do pária, e seus heróis solitários só encontram por fim uma absoluta solidão. Conrad, que era polonês de nascimento, tornou-se um dos grandes estilistas da língua inglesa, a qual só começou a usar depois de adulto. 
O Coração das Trevas é considerado uma de suas obras-primas. Nesta magistral novela a África é evocada por analogia com o mundo interior da pessoa, nela o autor narra o drama da destruição moral de um europeu perdido entre os selvagens do Congo. Com o nome de Apocalypse Now, em 1975 a obra foi filmada por Francis Coppola. Marlon Brando desempenhou o papel de Kurtz – o principal personagem do livro.

✔ Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo
Noite na Taverna é uma obra publicada postumamente no ano de 1855 em uma coletânea de textos do autor em dois volumes. De tons trágicos e cheia de fantasia, a obra é uma autêntica representante da escola byroniana do Romantismo no Brasil.
O livro está dividido em sete capítulos. O primeiro capítulo faz uma introdução, traça o cenário (uma taverna) e apresenta os personagens. O último finaliza a história anterior e o livro simultaneamente, dando um caráter de realidade às histórias narradas pelas cinco personagens. O diálogo inicial entre Satã e Macário, que é o final de outro livro de Álvares de Azevedo, Macário, demonstra que o que se vai ler é algo cheio de vícios. Além disso, uma característica da obra é a visão idealizada do amor, pois só o amor seria capaz de corrigir todos os males.
Reunidos em uma taverna, as personagens, descrentes com a vida e o amor, cheios de vícios e amantes do vinho, definem-se como libertinos, admiram Don Juan e contam “histórias sanguinolentas” envolvendo o amor e crimes do passado, todas com fins trágicos.

Bônus
As influências do estilo Gótico é nitidamente perceptível em muitas obras atuais, porém, são raras aquelas que são classificadas ou assumem inteiramente tal gênero. Como exemplo, e para ilustrar o gótico contemporâneo, adicionamos como bônus um lançamento recente que não tem medo de dizer que bebeu dessa fonte com ardor.
✔ Filme Noturno, de Marisha Pessl
Com uma narrativa ágil, pontuada por recortes de jornal, páginas da internet, relatórios policiais e bilhetes manuscritos, Filme Noturno é um thriller que mantém o leitor preso até a última página. 
Em uma noite fria de outono, Ashley Cordova é encontrada morta em um armazém abandonado em Manhattan. Embora a polícia suspeite de suicídio, o jornalista Scott McGrath acredita que exista algo mais por trás dessa história. Seu interesse pelo caso não é gratuito: Ashley é filha do famoso e recluso diretor de filmes de terror Stanislas Cordova, um homem que não é visto em público há mais de trinta anos e que, no passado, teve um papel trágico na vida de McGrath. 
Impulsionado por vingança, curiosidade e necessidade de descobrir a verdade, o jornalista é atraído para o horripilante e hipnótico mundo de Stanislas. Da última vez que chegou perto do cineasta, McGrath perdeu o casamento e a carreira. Dessa vez, pode acabar perdendo muito mais.

Qual o seu Livro no estilo gótico favorito? Tem alguma obra que você classifica dentro dessa categoria? Conte-nos em nossos comentários

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