Coisas que um carioca nunca vai entender em SP

POSTADO POR: admin qui, 20 de dezembro de 2012

Estou prestes a completar dois anos residindo na terra da garoa e acho
incrível como ainda sou surpreendido pela grande diferença cultural entre São
Paulo e Rio de Janeiro.
Parece que a cada bimestre que passo por aqui descubro uma nova
liturgia paulistana a qual preciso me adaptar. Algumas coisas são bem simples,
como por exemplo, a quantidade de beijos que se deve dar no rosto ao se
cumprimentar alguém do sexo oposto, mas outras são tão complexas que chegam a
interferir drasticamente na rotina de um carioca que escolheu morar em Sampa.

Então, em uma tentativa de compreender a origem, razão ou motivo de certos
protocolos sociais dos paulistanos, estou aqui listando as coisas que com o
tempo descubro, aprendo, mas não entendo, em SP.
1-O Calendário Gastronômico Paulistano
Eu acredito que a rede de bares e restaurantes de São Paulo funciona
como uma espécie de máfia que possui uma regra categórica obedecida cegamente
pelos donos desses estabelecimentos, onde se proíbe veementemente que se sirva
certos pratos de comida fora dos dias determinados pela organização dos
comerciantes. Tirando os restaurantes de culinária especializada, todo o resto
segue um determinado cardápio diário que deixa o cliente, que já segue uma dura rotina diária de trabalho, condicionado também a uma rotina alimentar.
Um prato de bife a rolê acompanhado de purê de batatas, por exemplo, é
uma excelente combinação, não acha? Mas em São Paulo você só pode saborear esse
tipo de prato as terças-feiras, que é o dia dele.
O mesmo vale para outros pratos, segunda rola um virado à paulista,
quarta é dia de feijoada, quinta geralmente é massa, e por aí vai. Tente comer
uma feijoada em uma segunda-feira que eu quero ver. Se bobear o garçom vai
soltar uma gargalhada na sua cara quando ouvir o seu pedido.
Certa vez, justo em uma quinta-feira, fui arrebatado por uma vontade incontrolável
de comer o maldito bife a rolê com purê (a combinação é tão perfeita que até
rima). Sem tempo para cozinhar, corri para um restaurante com um plano em
mente.
Assim que cheguei, fui logo me dirigindo ao gerente.
– Boa tarde meu amigo. Olha, vou ser bem direto com o senhor. Eu sei
que hoje é quinta e não é dia de servir bife a rolê com purê de batata, mas eu
estou com minha mulher grávida em casa e ela está com desejo de comer esse
prato. Será que o senhor podia quebrar esse galho pra mim?
– O dia de bife a rolê é terça. Hoje temos lasanha.
– Eu sei disso amigo. E por esse incomodo, estou disposto a lhe pagar
o dobro do preço por essa quentinha de bife a rolê.
– Você é carioca, não é não?
– Sou sim.
– Então carioca, você não vai encontrar um bife a rolê na quinta. Leve a lasanha, sua mulher vai gostar.
– Nem pagando o dobro?
– Nem pagando o triplo. Hoje é quinta.
– Ta bom então amigo,… obrigado.
– Tem certeza que não quer levar a lasanha?
Saí dali frustrado e acabei comendo em uma lanchonete fast food. 
Até hoje me pergunto se a
culinária paulista é tão profissional a ponto de possuir um cozinheiro
especialista para cada prato do dia, e não tinha mesmo como o gerente chamar o
cara de terça só para fazer um prato extra de bife a rolê em plena quinta.
Porque isso jamais funcionaria no Rio de Janeiro
Eu até acredito que esse cardápio automatizado deva facilitar muito a
vida de quem administra um restaurante. E até pode ser que um dia também tenham
tentado implantar esse sistema municipal gastronômico no Rio de Janeiro. Mas tenho certeza que assim
que um carioca se incomodasse com esse padrão alimentício (como ocorreu comigo), malandramente correria para abrir um restaurante com um cardápio
alternativo. E esse oportunista rapidamente seria seguido por outro, e esse por
outro, e por outro, e provavelmente foi assim que formou-se essa incrível variedade diária que compõe a cadeia de restaurantes cariocas. 
Uma comida tão caseira, mas tão
caseira, que assim como na sua casa, você só fica sabendo o que vai comer
quando começa a destampar as panelas pra se servir.