Coisas que um carioca nunca vai entender em SP (parte 3)
Aliás, como carioca, eu não sei o que me assusta mais em São Paulo,… O fato das pessoas convocarem a polícia por qualquer coisinha boba, ou o fato dos policiais realmente atenderem essas solicitações.
Enfim, todo esse caso que citei acima pode ser facilmente assistido e elucidado em cenas apresentadas no programa ‘Polícia 24 horas‘ da BAND. Mas o que quero narrar aqui, é uma experiência pessoal.
Mal havia completado um mês que eu começava a morar em meu apartamento recém alugado na região central de São Paulo, quando em uma bela manhã, ao descer para comprar o tradicional pão matinal, me deparo com uma aglomeração na portaria composta por uma moradora idosa, o síndico, o porteiro, o zelador do prédio, e mais quatro policiais,…Todos com cara de bunda.
Ao passar pelo grupo solto um genérico ‘bom dia’ que foi respondido de forma desanimada por todos.
Já fora do prédio, fiz o que qualquer carioca sensato faria em SP, me desesperei. Duas viaturas na porta da minha casa!! Caralho!!! Que loucura!!!! Será morte? Sequestro?? Assassinato???? Ou um daqueles arrastões de condomínio?! Só podia ser uma merda federal. Provavelmente eu teria que dar depoimento. E agora?
Tomei café da manhã ali mesmo na padaria, e enrolei até que os ‘cana dura’ tivessem ido embora.
No retorno para casa, encontrei apenas o zelador na portaria.
-E aí, camarada?! O que rolou aqui?
-Carioca,… Você nem imagina a confusão que deu.
-Ah, eu imagino sim. Se foi necessário duas viaturas, é porque não foi pouca coisa. O que aconteceu afinal?
-Briga de morador.
-Briga entre moradores?
-Não! Briga de morador com o porteiro.
-Tá de sacanagem… Chamaram a polícia pra isso?
-Mas a coisa foi séria, carioca!
-Séria como? Teve mortos ou feridos? Alguém puxou uma faca, canivete, ou lixa de unha que seja? Rolou uma bofetada pelo menos?
-Não teve nada disso não, mas aquela senhora do 88 que tava aqui, disse algum coisa pro porteiro que ele não gostou.
-E aí ele chamou a polícia pra ela?
-Não. Ela que chamou a polícia pro rapaz porque ele respondeu mandando a velha ‘praquele’ lugar.
-Sim. E depois?
-Não tem depois. Foi só isso.
-Cara, no Rio, se alguém chama a polícia por um motivo destes, é capaz de rolar um abaixo assinado dos moradores pra tirar esse trouxa do prédio.
Porque isso nunca, jamais, em nenhuma hipótese, aconteceria no Rio de Janeiro…
Chamar a polícia no Rio é realmente o último recurso de qualquer carioca. Eu quero dizer, só mesmo em caso de morte, não de ameaça, mas sim do fato consumado. E é bom esperar até que o corpo comece a feder antes de ligar, só por garantia. Porque se acaso os nobres e ocupados policiais atenderem o seu chamado, e eu reforço aqui repetindo ‘SE atenderem seu chamado’, é bom ter certeza de que eles realmente não se deslocaram até ali por pouca coisa, ou você estará em maus lençóis.
Fora isso, qualquer outra coisa no Rio, se resolve lá na delegacia.
Nada de ficar chamando a policia até o local ou você pode ter sérios problemas com aquele seu vizinho que deve pensão alimentícia, com a jovenzinha do apartamento em frente que se prostitui a noite, com o rapaz do andar de baixo que fuma maconha, e até com o porteiro que tá entocado na cidade maravilhosa porque tá ‘pedido’ lá na Paraíba,… E corre o risco de ficar eternamente conhecido como uma ‘persona non grata’ no condomínio.
O que seria o ‘Vou chamar a polícia, meu!’ em São Paulo, no Rio transforma-se em algo como ‘Então vamô todo mundo resolver isso lá delegacia, nem!’.