Ciclo das Trevas – O Protegido (Peter V. Brett)
E então, segui consumindo outras variantes deste tema instigante, mas sempre sabendo que pouco havia sobrado para ser acrescentado ou explorado sobre ‘capas e espadas’. E qualquer outra história sobre o assunto, provavelmente seria mais do mesmo. Foi com essa ‘desesperança’ que iniciei a leitura do Ciclo das Trevas – O Protegido (DarkSide Books, capa dura, 520 páginas), e novamente fui surpreendido pela habilidade inventiva de um excelente autor.
O Ciclo das Trevas é o primeiro trabalho de Peter V. Brett na fantasia medieval, mas ele escreve sobre o tema com tanta propriedade, que você jamais saberia que essa obra é a sua estreia, se eu não tivesse dito antes.
A principal característica que me marcou no estilo deste autor, foi a ousadia de escolher como protagonistas da sua saga, personagens que exercem profissões que normalmente são consideradas quase que figurativas nesse tipo de história. Em vez de bravos guerreiros habilidosos, aqui temos um mensageiro, uma ervanária e um menestrel. E quem joga RPG sabe bem que, apesar de ser funções vitais em uma sociedade medieval, esses são os eternos coadjuvantes de qualquer aventura de fantasia. Mas em uma terra inóspita onde todo tipo de criaturas malignas surgem ao cair da noite, esses não são exatamente os heróis que a humanidade precisa, mas são os heróis que ela dispõe. Os terraítas são demônios furiosos que brotam sobre a terra em busca de carne humana sempre que o sol se põe. E a única defesa contra essas feras, são antigos símbolos mágicos de proteção que, infelizmente vem sendo esquecidos pelos homens.
Dentro deste cenário acompanhamos a trajetória de Arlen, Leesha e Rojer, três jovens nascidos em distantes vilarejos, que possuem o desejo em comum de conquistar mais do que lhes foram reservados para suas simples vidas. Cada um à sua forma.
Olhando friamente, Ciclo das Trevas apresentaria um roteiro até que bem simples. Isso se toda a descrição criativa de Peter V. Brett não tornasse cada capítulo do livro um momento único. Construindo a feição do leitor com cada personagem separadamente, e nos deixando constantemente instigados para saber onde, e quando, esses caminhos poderão se cruzar.
Uma obra que certamente criará uma nova variante do gênero fantástico, e pode facilmente tornar-se uma saga épica, ao lado das suas antecessoras consagradas.