Brinde Noturno & Outros Poemas (Thiago Nelsis)
Essa obra poderia facilmente ter sido escrita em algum remoto porão medieval, tal qual sua atmosfera, que parece algo concebido pelos monges impuros citados em ‘O Nome da Rosa’. Cunhado com palavras que não deveriam ser ditas em voz alta, nem mesmo que fossem sussurradas. Com isso o autor se joga em uma espiral negra de estrofes afiadas e, sem remorso, arrasta o leitor junto para um mundo hipnotizante onde nem mesmo ele parece ter o controle. Um mundo onde apenas se é.
Apesar dos títulos fortes que avisam o por vir, como a exemplo dos poemas ‘A Menina dos Encantos Nefastos’, ‘Canções de Maldição’, ‘Dança das Almas Mortas’ e ‘O Cortejo Demoníaco’, definitivamente não se pode prever onde a poesia de Nelsis pode acabar te levando.
Sem morosidade com palavras rebuscadas ou métricas decoradas, sua linguagem é nua, crua e o mais pontiaguda possível. Como um golpe fulminante que mira o que viu, mas acaba acertando no que não viu.
E deitado,
delirante,
sob a gentil sombra das árvores mortas,
a doença suave me toma para dançar em sonhos;
mostra-me caminhos disformes para a serenidade do infinito
onde a dor não é bem-vinda.
(do poema A Marcha do Mundo)
Brindes Noturnos traz uma releitura pessoal de um estilo literário que pairou durante muito tempo no ostracismo antes que alguém tivesse coragem suficiente de abrir suas portas enferrujadas e remexer em suas temáticas empoeiradas.
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