Blogueiro ou Bloguista? Eis a questão, que ninguém perguntou

POSTADO POR: admin qui, 08 de novembro de 2012

Quando fui convidado para participar de um programa de TV, confesso
que aceitei o encargo já com um terrível foco em mente. Feito um terrorista que
premedita seu ataque, compareci ao dia da gravação totalmente mal intencionado. Decidido em usar aquele espaço que me foi cedido em rede nacional para levantar
uma questão desimportante para a maioria, mas que considero bastante significativa
para o trabalho que desenvolvo.
Para encurtar este ‘prefácio’ e logo podermos adentrar no assunto
propriamente dito e intitulado, você pode CLICAR AQUI e ver um trecho da minha
participação do programa ‘Quem fica em pé?’ especial de Halloween, onde eu,
desde os corredores do camarim, solicito à emissora que a palavra ‘blogueiro’
da minha descrição, fosse substituída por ‘bloguista’

No vídeo dá pra ver que
eu ainda tento explicar em rápidas palavras, no curto tempo disposto de um
programa televisivo, o ‘porque’ dessa minha ‘birra’ escrota. Claro que minha
frustrada explicação só serviu para acender uma brasa de discussão pelo
twitter. Entre os comentários, teve quem achasse que a palavra ‘bloguista’
tivesse sido uma gafe cometida pelo apresentador Datena (esses pegaram o bonde andando) e
outros que pediram, de uma forma inesperadamente bacana até, que eu desenvolvesse
melhor esta ideia ‘aplicada’,… E para estes, surgiu esse texto.

Antes de começar a dissertar sobre assunto, acho que preciso dizer que
tudo isso não é pura loucura da minha cabeça, essa questão já foi regurgitada antes
por outros blogueiros bloguistas. Então, caso você seja desses que acham que
minhas palavras não possuem credibilidade alguma a ser considerada, eu entendo
e respeito tanto a sua posição que sugiro que ignore essa minha premissa e
conheça explicações mais contundentes como a da Cris Guerra do blog Hoje vou assim, ou ainda a do blog do Bauru. Até porque, certamente usarei epígrafos dos textos citados, durante a minha própria definição ‘mal dita’ da coisa.
‘Muitos afirmam que alguns sufixos adquirem determinado valor pelo uso. Assim, eles teriam mais do que a função de formar novas palavras com novas classes gramaticais. A função deles estaria ligada à semântica. Por exemplo, a adição do sufixo -eco à palavra jornal não gera apenas o diminutivo da primitiva, mas tem valor depreciativo.
Cláudia Assad Alvares (USP) ratifica o discurso de Miranda (1979), “no que tange à oposição existente entre os agentivos formados pelos sufixos -ista e -eiro e que designam profissões em língua portuguesa. A oposição estaria vinculada ao status; dessa forma, os agentivos em -ista designariam profissões de maior prestígio sócio-cultural em nossa sociedade, ao passo que os agentivos em -eiro designariam ocupações de pouco ou nenhum prestígio e, até mesmo, marginalizadas”. Exemplo para essa ideia é a oposição entre jornalista e jornaleiro.’
Este texto destacado acima foi retirado da Wikipedia e apesar de respaldado e bem elaborado, é uma tremenda bobagem. A coisa nem é tão complexa assim.
A ‘minha’ verdade é que quando surgiu o ‘tal de blog’, isso a mais de 10 anos atrás, o que me fascinou naquilo tudo que se construía, não foi o colorido da tela (até porque era complicado pra se colocar uma imagem em uma postagem na época), não foi a facilidade de informação (ainda hoje prefiro colher minhas fontes em livros) e muito menos a remota possibilidade de se ganhar dinheiro online (isso nem passava por mossas cabeças). Mesmo só conseguindo acessar blogs quando visitava a casa de algum amigo com computador (Valeu Léo!!), depois deste contato eu nunca mais consegui dormir sem pensar na liberdade de se criar algo realmente representativo e poder leva-lo a um enorme número de pessoas sem precisar passar por pré-aprovação, censura, consentimento, assinatura ou benção de qualquer grande corporação. Algo que havia se perdido com a cultura dos fanzines, mas nunca imaginado com tanta potencialidade.

Eu meio que já fazia algo parecido com um jornaleco ‘revolucionário’ que eu distribuía ‘ilegalmente’ na minha escola durante o colegial. Mas aquilo de ‘blog’ era bem diferente, algo que parecia maior até que as minhas ambições. Na minha opinião, algo que delegava tanta responsabilidade que minha primeira reação foi me manter afastado de toda aquela descoberta. Preferi esperar e observar a coisa toda amadurecer, minhas ideias se desenvolverem e eu conseguir ter meu próprio computador.
Pois bem, aparentemente tudo isto ocorreu alguns anos depois resultando neste blog que começou apenas como um lugar onde eu pudesse armazenar meus escritos, e hoje, cinco anos depois, é quase que ‘levado a sério’ por um certo público na internet. 
Automaticamente, perante qualquer um, isso fez de mim um blogueiro. Definição essa que aceitei passivamente. Afinal, não era isso que um blogueiro fazia? Criava sua própria pauta; Trazia a tona assuntos ignorados pela grande mídia; Divulgava aquilo que poucos procuravam saber; Mostrava um trabalho que ninguém dava chance do público conhecer, não é isso, pô? Então eu era blogueiro também, estávamos juntos nessa.

Aos poucos, como fatalmente ocorre em todo movimento ‘cultural’, foram surgindo os oportunistas de olhos astutos em qualquer mérito que ‘ser blogueiro’ pudesse lhes render, fosse financeiro, amoroso, físico, social e até espiritual.
Com isso os blogs se multiplicaram desenfreadamente, surgindo e sumindo na velocidade de um pavio de bomba acesso. Sem objetivos ou responsabilidade, apenas pelos benefícios e vantagens. E é por estes que, apenas matematicamente, representam uma grande ‘maioria’ de blogueiros presentes na internet que, ao meu ver, a palavra tornou-se pejorativa e até depreciativa. O que começou como um ato de liberdade expressiva, hoje se alimenta das mesmas notícias insipidas veiculadas pela grande mídia.

O que quero dizer é que um espaço que deveria ser usado para divulgar o trabalho diferente de uma artista talentosa que ninguém conhece, mas deveria conhecer, por exemplo. É desperdiçado para se comentar algo completamente irrelevante (provavelmente o tom do esmalte) de uma outra artista já famosa, constantemente exposta pela ‘imprensa oficial’, e que nem precisava daquela divulgação pífia,… Ah, mas o blogueiro precisa né.
Acho que usei um exemplo infeliz e não me expressei muito bem. 
Vamos resumir da seguinte forma: Um bloguista usa o blog como um canal para divulgar algum tipo de trabalho que não conseguiria chegar ao grande público de outra forma. O blogueiro usa o mesmo canal para alcovitar e replicar o trabalho de outros.
Xiiii, acho que compliquei mais ainda…

Blogueiros criam blogs unicamente interessados na remuneração
decorrente deles. Bloguistas criam blogs por prazer e afinidade com um assunto,
e assim criam conteúdos relevantes – a remuneração é consequência, não
objetivo. Assim como existem blogueiros e bloguistas, existem leitores e
leitores. Há os que buscam um bom conteúdo, mas há também os essencialmente
consumistas, prontos para comprar e acatar qualquer recomendação, desde que ela
traga a expressão “última moda” ou algo que o valha. Blogueiros fazem blogs que são meros incentivadores de consumo.
Bloguistas fazem blogs geradores de valor, que provocam mudanças positivas na
vida de seus leitores. Naturalmente, a audiência se divide entre esses dois
grupos. Blogueiros se prestam à uniformização. Bloguistas acreditam e
trabalham para despertar a identidade de seus leitores.
 
Blogueiros não geram conteúdo. Replicam. Vivem do Control C, Control
V, sem colocar suas opiniões para trabalhar. Bloguistas prezam pela
originalidade. São transparentes, verdadeiros, espontâneos. E não têm medo de
colocar o que pensam, inclusive diante de críticas que possam receber. Não têm
medo, inclusive, de mudar de opinião. Porque Blogueiros e bloguistas podem
cometer erros. A diferença é que os bloguistas estão preparados para admiti-los
e aprender com eles.’
Já essas palavras foram retiradas do excelente texto da Cris Guerra que citei no início dessa ladainha.
Se você levou essa leitura até este ponto, já deve ter bem definido em mente o que é ser um ‘blogueiro’ pra você. De forma mais objetiva quero dizer que ao me declarar ‘bloguista’ eu só quis dizer que me posiciono exatamente na contra-mão de todo esse ônus que vem sendo carregado pela palavra ‘blogueiro’. Ostento aqui, com orgulho, a bandeira de traidor deste movimento.
Entendam, que com esta referencia, em nenhum momento pretendo me achar superior a outros blogs e blogueiros, que apesar dos pesares arrancam brincando milhares de acessos diários. Não, não estou mesmo. Eu sequer tenho este direito. Conhecendo o histórico cultural do nosso país, não posso nem mesmo questionar a extrema popularidade de alguns desses blogs.
Mas com tanta diferença na estrada e na ideologia entre estas ‘duas’ formas de ‘blogagens’, me reservo ao menos o direito de me achar diferente dos outros.