Aconteceu com o amigo de um amigo meu: ‘Lápis com apontador’

POSTADO POR: admin ter, 17 de janeiro de 2012

Serei cuidadoso, não quero entregar ninguém, mas essa história tem que ser contada. Melhor dizendo, ela tem que ser escrita, pois já foi contada trocentas vezes em mesas de bares. 
Se passa em um passado não muito distante, envolve um certo rapaz que tinha um anormal fascínio pelo álcool e uma bela moça  que sabe-se lá por que andava futricando com o tal papudinho. Para o texto ficar mais claro vou dar nome aos bois, o rapaz será Uélinton e a moça será Silene.
Acho que era uma sexta-feira, um aniversário em algum barzinho de num-sei-quem que era muito amiga da Silene. Uélinton, que daqui pra frente chamarei de Ué, achava esse tipo de festa um saco. A única coisa que o atraia pra aquele buraco era a chance ter algum tipo de ação com Silene, e isso o não impedia de realizar uma de suas atividades favoritas das tardes de sextas, beber cana. Ele bebeu e já chegou  no tal aniversário de sorriso aberto, isso agradou a todos. Ela, Sil, se mostrou muito feliz dele ter comparecido ao festejo e logo começaram os carinhos, beijos, chambregos e, por fim, amassos. Ela, com muito jeitinho, falou que aquele não era o lugar, aquela não era a hora, ele riu e sugeriu que fossem para outro lugar na hora certa. Ela riu. E na minha terra dizem que se riu, quer …

E quando deu fé, lá estavam os dois em um motel aparentemente comum de Recife. O dois bêbados, mas não mortos, abrem o frigobar e pegam algumas cervejas. “Sexo é bom, mas com cerveja fica ainda melhor” foi o que Ué disse enquanto tirava a roupa de sua parceira. Beijinho pra cá, mãozinha alí, roçada lá por baixo, puxada no cabelo e … escuridão. Puff! A próxima coisa que Ué se lembra é de acordar ao som “Born to be wild” do Steppenwolf saindo de seu celular,… e de ter  a maior dor de cabeça de todos os tempos.
Estava completamente pelado e esparramado na cama. Sil não estava tão largada, por alguma razão, perdida para todo o sempre ainda vestia o seu sutiã. Com muito sacrifício, ele vai ao banheiro e no primeiro jato de urina percebe que havia dado uma pistolada na noite anterior. Abre um sorriso de tarado e volta pra cama para dormir um pouco mais.
Alguns minutos depois, ele é acordado com um beijo. Eles conversam alegremente, tomam café da manhã e quando decidem que é hora de partir algo muito estranho acontece. Em um desses acordos, que só é capaz com muita luta das mulheres por direitos iguais, ficou acertado que ela se encarregaria com os custos do taxi e ele com o do quarto de motel. E lá estava ele pálido olhando para a conta. Não era o valor total o que lhe assustava, ele sabia que farrear daquele jeito exigia um preço elevado. O que lhe fazia o sangue fugir na face era um item em especial, um item que em muito se destacava dos habituais chocolates, pernoite ou cervejas. O tal item tinha o código 3154, o valor de R$ 1.99 e na sua descrição havia “lápis com apontador”.
Ele olhou pra ela, ela olhou pra ele, ele olhou para o papel, o papel não fez nada, ele olhou pra ela mais uma vez, ela perguntou se tinha algo errado e nesse exato momento Ué teve de tomar uma das decisões mais difíceis de sua vida. 
O que ele diria? “Que porra é essa de lápis com apontador?” ou simplesmente “nada”? Tentou buscar no fundo de sua mente algo parecido com um lapís e nada surgiu. Ainda sem se decidir tentou imaginar as possíveis respostas que ela poderia dar a cada uma de suas perguntas. Imaginou-se tirando raio-x, sendo operado… Suas pernas tremeram, o sangue retornou a sua face trazendo consigo um suor frio e com muito esforço ele conseguiu dizer “Nada, baby”. Pagou a conta, foi pra casa e assim que pode fez questão de apagar o contato ‘Silene’ da memória do celular.
Quando os dois se encontram, ele inventa alguma desculpa esfarrapada e diz que vai ligar, mas nunca liga. Mas eu não o culpo, ainda hoje quando Ué pensa nela a imagem da Faber-Castell sempre lhe vem à mente.