Acelerando nos sonhos e capotando em pesadelos

POSTADO POR: admin sex, 14 de dezembro de 2012

Sonhei que Cecília conduzia o carro (um Escort
vermelho XR3 conversível) por uma estrada sinuosa, cravada nas altas montanhas
de algum lugar bem verde, onde a temperatura é agradável e o sol não maltrata.  Ela sorria, acelerava, ultrapassava
os carros com maestria, sacaneava os retardatários, mostrava o dedo do meio e dizia – Tá pra nascer uma motorista como eu! Ultrapassava todo mundo,
acelerava cada vez mais, e eu me lembro de ter gostado daquilo. Olhava para ela,
embasbacado, suspirando, demente.
– Coisa linda, você podia dirigir lá na fórmula Indy.
– É claro que posso… Eu posso tudo! TUDO!

Disse a última fala e girou o volante para a direita.
Caímos no precipício. Durante a queda ela sorria, mudava a
cor dos olhos. E eu pude admirá-la até o fim, quando nos chocamos com as
pedras e esfacelamos os crânios. Morremos sorrindo, sem saber o porquê da
morte.
Mas acordei vivo (nem tanto) em um pequeno barco, sozinho, tentando me localizar
e manter o rumo em meio a uma tempestade tropical. A noite trazia a mais
profunda escuridão dos mares, rasgada vez por outra pela força explosiva de um
raio iluminando o céu e as ondas gigantes. Uma garrafa de uísque era a minha salvação. Bebia, pedindo a Deus que não se preocupasse comigo e mandasse logo suas
ondas maiores. Ele não mandou..
Amanheceu e eu estava sozinho naquele barco. O uísque
acabou. O sol torrava a pele, porém não havia água. O mar deu lugar a um imenso
deserto… Estava nas ruínas de um barco encalhado na areia.

Fui caminhando sem rumo e,
mesmo tentando ignorar, Mozart martelava seu piano fodido em minha mente… O som vinha
de algum lugar do deserto, tomava o ar, bailava ditando o ritmo do vento, dos desenhos criados na
areia. Então o céu escureceu, e no lugar da chuva caíram páginas soltas de
livros antigos. Vi ao longe, Cecília, minha dourada Cecília em um vestido de véus brancos
esvoaçantes, juntando as folhas caídas na areia.

Acordei definitivamente. Mas o acordar nem sempre significa abandonar seus sonhos e pesadelos.