A Maldição do Cinema – Gremlins 1 e 2

POSTADO POR: admin qui, 04 de setembro de 2014

Gremlins (Gremlins)

Diretor: Joe Dante
Roteiro: Chris Columbus
Ano: 1984
País: EUA
Atores: Zach Galligan, Phoebe Cates, Hoyt Axton, Corey Feldman, Dick Miller
Escrever sobre Gremlins é retornar um longo caminho percorrido. É como naquela cena da animação O Estranho Mundo de Jack em que o Rei Abóbora chega num bosque onde, em cada árvore, existe uma porta que o levará a um mundo temático. Ele escolheu a porta do natal. Eu, a do terror.
Desde o dia em que descobri tal universo, jamais dele me afastei. Mesmo após as inúmeras noites mal dormidas e dias olhando para trás, por ainda carregar a sensação que determinada obra em mim injetou. E engana-se quem acha que, após mais de vinte e cinco anos e um livro publicado sobre o gênero, nada mais me atinge. Pelo contrário, boas obras são sempre como uma primeira vez. O susto permanece intacto.
A porta que chamou a atenção do Jack tinha o formato de uma árvore de natal. A minha, de um Mogwai. Ou Gizmo, pois a maioria o conhece pelo nome. Ao assisti-lo, ainda com quatro anos de idade, me apaixonei pelo cinema e pelo gênero, devorando quantos filmes pude, dia após dia. A sensação permanece fresca na memória. Na cama dos meus pais, encantei-me com aquelas criaturas engraçadas e mortais. Nos momentos finais, já não aguentando mais, fiquei pulando como um louco, sem tirar os olhos da TV. Ao término, pedi para assistir novamente. Um hábito que mantive por toda a infância e adolescência: Assistir determinado filme (99% das vezes, terror) duas vezes seguidas.
Nenhum outro gênero exerceu em mim tamanho fascínio quanto este. Sua estética, ações, a ironia assassina, os estereótipos, a trilha tensa, elementos que permanecem me assustando nos dias atuais enquanto outros, não mais, devido ao tempo e maturidade adquiridos. Logo, ganhei dos meus pais, ainda criança, a assinatura da extinta Revista Set e a possibilidade de alugar seis filmes a cada quinze dias. Sempre o terror em meio aos demais. Aos cinco anos, alugava desenhos do Pernalonga, Super Xuxa Contra o Baixo Astral junto com A Noite dos Mortos Vivos, Drácula, O Expresso do Horror e muitos outros. Meus pais jamais foram contra. Nunca quis matar ninguém por isso.
Ao assistir Brinquedo Assassino, meus pais perceberam que fiquei paralisado e foram dormir comigo. Poltergeist me assombrou por anos.A Casa dos Maus Espíritos quase me levou ao surto, acho que fiquei algumas horas sentado no sofá após o término. Vozes, cenas de mostro no meio da floresta. Tudo me assustava e me fascinava. A Morte do Demônio me fez rir anos a fio e assim foi. Desde aquela tarde com Gremlins, iniciei um caminho que jamais enfraqueceu. A paixão pelo gênero e o acompanhando como bem podia. Selamos uma amizade eterna. E nunca matei ninguém (Não que não quisesse… mas deixa isso pra lá, #risadasdemoníacas)
     
Lançado em 1984, Gremlins aborda o terror de forma astuta, nos colocando diante de uma questão séria tão bem trabalhada que facilmente passa despercebida. Transbordando de humor negro, o filme segue na contracorrente do politicamente correto, o que é bastante curioso para um trabalho que se enquadra como “um filme para toda a família”.
O fracassado inventor Randall Peltzer, ao término de sua viagem, passando por Chinatown, descobre uma loja no subsolo devido à insistência de um garoto. Em meio aos inúmeros artefatos e um senhor de aparência milenar, encanta-se com o desconhecido animal dentro da loja. Um presente perfeito e original para seu filho na noite de natal. Mesmo oferecendo uma quantia generosa, o senhor não o vende, para desespero do garoto, que pede a Randall que o espere lá fora. Minutos depois lá está ele com uma caixa em mãos e, em seu interior, o tão desejado animalzinho.
Chegando em casa, por tratar-se de um ser vivo, não pode esperar até a noite de natal para entrega-lo à seu filho. E enquanto todos se deparam com aquela fofa e desconhecida criatura, três regras que jamais devem ser esquecidas:
– Nunca alimenta-lo após a meia-noite.
– Nunca molha-lo.
– Jamais expô-lo à luz forte. Principalmente à do sol, pois pode mata-lo.
Os dias vão passando e Billy e Gizmo, assim nomeado, iniciam uma bela amizade. Mas pouco a pouco as regras vão sendo deixadas de lado, por isso dá-se início a um mortal pandemônio.
Gremlins nos coloca num lugar tanto quanto delicado, pois nos divertimos e muito com as mortes decorrentes no filme. Tais criaturas dilaceram todos que encontram pela frente enquanto nós, público, aplaudimos. A crueldade das criaturas não é camuflada, eles matam por que é legal e ponto final, sem se transformar num bando de idiotas ou algo que “suavize” o ato. E nessa trajetória o terror mantém-se em evidência sem suavizações, conseguindo com que o espectador tenha duas sensações distintas ao mesmo tempo. O choque pela morte e uma diversão enorme pela mesma. Quantos bons filmes você já assistiu em que, durante as mortes, se divertisse como se fosse algo bom? Pode-se dizer que através de Gremlins apresentamos nosso lado sombrio e sádico. E o mais curioso é que isso acontece num filme em que a família que se reúne apenas para se divertir. Todos reunidos, se divertindo com uma série de mortes. Por isso, não é apenas um excelente filme sobre criaturas, como também tem um lugar especial dentro do gênero.
Os monstrinhos abusam do sarcasmo ao matar quem deles se aproxima, ou até mesmo entre eles, quando irritam uns aos outros. Não existe uma lógica nestas criaturas que não seja se divertir e ultrapassar qualquer limite do bom senso. E claro, matar é o ato principal dessa diversão. Com suas mentes perversas e fugazes, assimilam com facilidade o que acontece ao redor e nunca se esquecem de nada.
Gremlins é um filme que, nas entrelinhas, destrói a essência do natal por apresentar algo totalmente inesperado numa época onde só se fala de amor, paz, fraternidade e etc, chegando como uma bomba camuflada. E apesar de não ser o protagonista, é curiosos perceber o quanto ele é ridicularizado no decorrer do filme. O primeiro grande ataque envolve um símbolo clássico da data. Mais à frente outro símbolo é atacado e um “momento revelação” (o maior trauma de uma pessoa) também o tem como tema principal. A obra o trata como uma grande ironia, desconstruindo sua mágica de forma sutil e astuta. Aproveitando o tema, por que não citar outro que, décadas depois, chega com força total quanto à destruição do natal, o inesquecível Rare Exports.
A construção da história segue num crescendo que só termina quando literalmente chega ao fim. Assim como a apresentação de cada personagem. Desde o início tudo é muito claro, como um jogo de xadrez onde cada componente tem sua função específica, o que não significa que alguns deles não tenham cartas nas mangas. E o que poderia ser chato e óbvio toma outro rumo através das estranhas criaturas.
Um dos momentos ápice é a cena do bar, onde os Gremlins escrotizam nossos hábitos, muitos tão glamourizados em inúmeras obras do cinema. O grupo de amigos no bar, o momento dança/empolgação, o jazz solitário munido de cigarro e whisky. E enquanto nos ironizam, se ironizam dentro de um círculo vicioso e mortalmente imprevisível.
A trilha sonora de Jerry Goldsmith é imperdível, assim como a música tema (tanto quanto conhecida). O trabalho de Jerry e sua inserção no filme é nitidamente bem pensada. Da mesma forma que os efeitos sonoros, bastante sutis, em diversos momentos, como o piar de passarinhos após bater fortemente a cabeça e parecidos, na ideia de manter o espectador cada vez mais dentro da história, utilizando-se de sonoridades que se encontram no imaginário popular.
A produção é de Steven Spielberg, facilmente reconhecida por sua marca emotiva e familiar. E se ele tanto tem interesse em apresentar os sentimentos que nos compõe em suas obras, cedo ou tarde chegaria a vez do terror. E quando as coisas têm de acontecer, acontecem. Mesmo no natal.
Interessante pensar que a ausência de tecnologia parece ter sido de grande valia para inúmeras obras, no que tange criação de boas histórias e roteiros. Numa época em que “tudo” é possível de ser criado, nunca se viu tanta idiotice dentro do gênero.
Após Gremlins, houve uma pequena febre de criaturas assassinas, como Criaturas, Hobgoblins, Munchies e outros. Mas nenhum deles seguiu na mesma linha de genialidade, sendo rapidamente esquecidos (Exceto Criaturas).
Para os admiradores de uma ironia cruel e sem arrependimentos, Gremlins é o filme perfeito.
Em 2014 Gremlins completou 30 anos. E é muito mais interessante e significativo do que muita coisa que vem sendo lançada atualmente.
Dificilmente teremos criaturas similares a esta. E admita, nunca foi tão divertido ver alguém ser morto. Reúna seus familiares e assistam juntos. Afinal, Afinal, Gremlins é uma obra que facilmente se encaixa no “subgênero” “filme família”.
Curiosidades:
✔Gremlins custou à Warner 11 milhões de dólares, e arrecadou mais de 160.
✔Todas as criaturas do filme são bonecos. Foram usados marionetes, bonecos, fantoches e animações em stop-motion.
✔O primeiro filme, após muitos anos, a usar a logomarca da Warner Bros.
✔O set de Kingston Falls é o mesmo usado em De Volta Para o Futuro (1985). Ambos foram filmados na Universal Studios.
✔Durante uma filmagem noturna, alguns problemas com os bonecos foram tão sérios que todo o elenco dormiu enquanto esperava.
✔Após assistir seus curtas, Spielberg considerou Tim Burton como possível diretor do filme. Mas logo desistiu por que, naquela época, Tim Burton nunca havia dirigido um longa.
✔O cinema que vai pelos ares esteve envolvido noutro acidente, quando Marty, em De Volta Para o Futuro (1985), arrebenta a porta de entrada no final do filme. O cinema então foi abaixo com todo o resto devido ao fogo após as filmagens de De Volta para o Futuro 2 (1989).
✔A máquina do tempo de A Máquina do Tempo (1960) está logo atrás de Rand Peltzer quando, na convenção dos inventores, liga para sua esposa. No momento seguinte a máquina desaparece. Na convenção encontram-se Steven Spielberg, Jerry Goldsmith e Robby the Robot.
✔Zach Galligan revelou numa entrevista que cada boneco do Gremlin custou aproximadamente, 40,000 dólares. Então, no quarto dia de filmagem, quando todos deixaram o set, os seguranças os revistaram por completo em seus carros para ter certeza de que eles não estavam roubando.
✔Judd Nelson e Emilio Estevez foram atores cogitados para o papel de Billy.
Em cantonês, mogwai significa demônio ou gremlin. Sua pronúncia em Mandarim é mogui.
✔A cena na loja de departamentos onde Stripe ataca Billy com uma motoserra não estava no roteiro. Foi adicionada por Joe Dante e Zach Galligan como uma homenagem ao Massacre da Serra Elétrica (1974).
✔As vozes dos Gremlins foram feitas por Michael Winslow. De acordo com a história, Gizmo era capaz de cantar e entonar. Jerry Goldsmith compôs a canção, mas Howie Mandel nunca havia cantado. Uma garota, membro da congregação de Jerry foi contratada para cantar a canção, embora nunca tivesse trabalhado num filme.
✔A fotografia de Rockin’ Ricky Rialto é uma foto de Don Steele.
✔Mr. Hanson, o professor, originalmente morria com várias injeções em seu rosto. Mas a pedidos de Spielberg, a cena foi refilmada com apenas uma única agulhada em seu traseiro.
✔Pelo menos um dos gritos de Phoebe Cates na taverna do Dorry é real. Uma barata enorme rastejou frente a ela durante uma das tomadas. 
✔Jon Pertwee e Mako foram cogitados para o papel de Mr. Wing.
✔Kenneth Toobey e Belinda Balaski aparecem em Gremlins 2, ambos em diferentes papéis.
✔Quando Billy chama Pete ao seu quarto para que conheça o Mogwai,pode-se ver um cartaz de Twilight Zone: O Filme. Joe Dante dirigiu um dos episódios para aquele filme um ano antes.
✔A banda de rock alternativo chama-se Mogwai por causa do filme.
✔Billy diz que comprou uma revista do Doutor Fantástico. Doutor Fantástico é o apelido do executivo de produção Frank Marshall.
✔Este foi o segundo filme envolvendo Joe Dante e Michael Finnell com Steven Spielberg. O primeiro foi No Limite da Realidade (1983)
✔Chris Columbus, que escreveu e dirigiu Esqueceram de Mim 1 e 2, nos três filmes do diretos  parece um trecho de A Felicidade Não se Compra (1946)
Gremlins tem várias coisas em comum com o filme A Felicidade Não Se Compra (1946). Ambas as cidades têm o mesmo segundo nome, Kingston Falls e Bedford Falls, passa-se no natal, um banco envolvido na história, personagens com os nomes Billy, a arte visual, George e Billy vivem com seus pais e tem um cão. As duas histórias sobre a segunda guerra mundial. Ambas tem uma moradora terrível que tenta tomar conta de tudo: Mrs Deagle e Mrs Potter, os Baileys correm com um negócio de família enquanto Pete Fountaine vende árvores de natal para seu pai, a porta do carro de George e o fusca de Bill são “temperamentais” , Mr Deagle inferniza os Peltzers enquanto Potter, os Bailleys. Os repórteres que tentam tirar uma foto de George e a mãe de Billy a do Gizmo, tanto Potter quanto Deagle têm um bar, Martini’s e Dorry. Ambos têm piscina e pessoas/gremlins caem nela. Xerifes em ambos. Cinemas em ambas as cidades e uma rua principal. George e Billy recebem ligações pessoais no banco. Neve. Enfeites de natal. A janela quebrada no clube e George e Mary quebrando a janela da casa Granville. Mrs Deagle usa uma cadeira para subir as escadas enquanto Potter é paraplégica. George sente-se preso no bar Bedford Falls enquanto Kate no Dorry. O Dorry cheio de Gremlins e o Bedford de clientes, caixa registradoras em  ambos os filmes, o ataque de um Gremlin ocorre após ele tomar o lugar de uma árvore de natal enquanto no meio de A Felicidade é na árvore. Repórteres em ambos.
Premiações:
Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films, USA – 1985 – Melhor direto, atriz coadjuvante, Trilha Sonora, efeitos especiais, ator coadjuvante, melhor perfomance de um ator jovem, melhor roteiro, melhor maquiagem.
Golden Screen, Alemanha – 1985
E qual o pensamento que tirei sobre?
Perfeição.
Você confere o trailer aqui:

Gremlins 2 – A Nova Turma
Diretor: Joe Dante
Roteiro: Chris Columbus (Personagens), Charles S. Haas
Ano: 1990
País: EUA
Atores: Zach Galligan, Phoebe Cates, John Glover,Dick Miller
Anos após o acontecido, o velho japonês morre, sua loja é demolida e Gizmo foge, quando é capturado por um cientista que trabalha no prédio mais tecnológico de Nova York, lugar onde Billy trabalha como desenhista. Tudo parece estar calmo até o momento em que ele escuta um carteiro assobiando a melodia sempre cantada por Gizmo. Ao saber que a ouviu no laboratório, vai até lá e depara-se com seu pequeno amigo. Mas é claro que as coisas não saem como esperado e os Gremlins voltam.
Nessa continuação de 1990, o foco é a ironia dessas mortais criaturas elevada a outros patamares. As mortes acontecem, mas pouquíssimas são mostradas. Sempre pela sugestão, nunca na evidência. Infelizmente não se trata de um filme inesquecível, ou sequer excelente. Assista se tiver curiosidade ou por ser fã dos monstrinhos. Ele cumpre a função de entreter, e só.
Agora, uma curiosidade para quem o assistiu em VHS. A fita vinha editada. Num dado momento do filme em que os Gremlins zoam como se estivessem dentro da aparelhagem, na VHS não vinha a cena que só fazia sentido se assistida dentro do cinema. Um corte consciente pois em casa perderia todo o sentido. Mas para um filme zoneado como este, até que não faria tanta diferença.
Existem planos para uma terceira sequência, mas devido ao avanço da tecnologia, eles não sabem o que fazer com as criaturas, já que agora tudo é possível. Espero que não façam nada, nunca.
Gremlins:
Um gremlin é uma criatura mitológica de natureza malévola popular na tradição saxã. O nome gremlin provém do inglês antigo grëmian, que significa “irritar” ou “incomodar”. Também está relacionado com grim, “sinistro”, e no termo alemão, grämen, “confusão”. Os gremlins são populares como criaturas capazes de sabotar qualquer tipo de equipamento. A popularidade dos gremlins veio de uma história contada entre os pilotos da RAF (Força Aérea Real Britânica) a serviço no Oriente Médio durante a Segunda Guerra Mundial. Esses seres seriam uma forma de explicar os frequentes acidentes que aconteciam durante os voos, as estranhas quedas que ocorriam na ausência de ataques inimigos. (Fonte: Wikipedia)
E qual o pensamento que tirei sobre?
Se alguém regravar este filme, ou fizer uma terceira sequência, merece a morte. Quando aprenderão que certas obras são insubstituíveis? Odeio regravações. Devemos respeitar as limitações técnicas da época. Afinal, quando a história é boa, elas nos pega para si, mesmo através de bonecos e linhas pretas de náilon quase invisíveis na tela.
Você confere o trailer aqui: