A Lista de Leitura dos 7 Pecados Capitais: PREGUIÇA

POSTADO POR: Maldito qui, 10 de abril de 2014

Continuando com a nossa Lista de Leitura dos 7 Pecados Capitais, o sexto pecado escolhido para ser desmembrado em livros no nosso inventário, quase não chega ao blog por efeitos do próprio vício. Ou seja, por pura PREGUIÇA
Talvez o pecado mais difícil de ser reconhecido pelo portador, que na maioria das vezes declara-se ‘cansado’ para alguma tarefa, no intuito de disfarçar seu esmorecimento e falta de vontade.

A preguiça é o mais auto-destrutivo de todos os pecados mortais. E na literatura, as coisas normalmente não funcionam muito bem para os preguiçosos. Eis a prova…

✔ Hamlet, de William Shakespeare

A preguiça é muito bem representada pelo príncipe Hamlet nesse que seria o caso mais famoso de indecisão, e falta de ação, de toda a literatura. 

Quando ouve o fantasma do pai dizer que sua morte não foi um acidente, mas sim assassinato, Hamlet passa a ser atormentado pela dúvida: o fantasma do velho rei diz a verdade ou seria um demônio tentando fazê-lo cometer uma loucura? Sobretudo porque, como afirma o fantasma, o assassino seria Cláudio, irmão do rei, que acabara de se casar com a mãe do jovem príncipe. 
Confundido e torturado pela dúvida, Hamlet não consegue decidir o que fazer. Resolve então investigar a morte do pai e para isso, finge-se de louco. Assim, ninguém desconfiará da terrível suspeita que lhe aflige o coração.
Na adaptação é o próprio Hamlet quem conta a história dessa busca e dos caminhos que o levaram a finalmente vingar a morte do pai, mas com um custo terrível.
✔ Razão e Sensibilidade, de Jane Austen
Razão e Sensibilidade está focado nos relacionamentos de Elinor e Marianne Dashwood, duas filhas do segundo casamento do Sr. Dashwood. Elas têm uma jovem irmã, Margaret, e um meio-irmão mais velho, John. Quando seu pai morre, a propriedade da família passa para John, o único filho homem, e as mulheres Dashwood se veem em circunstâncias adversas. 
O contraste entre as irmãs, mostrando Elinor mais racional e Marianne mais emotiva e passional, é resolvido quando cada uma encontra, à sua maneira, a felicidade. Marianne e Elinor representam polos opostos do universo ético de Austen – enquanto Marianne é romântica, musical e dada a rompantes de espontaneidade, Elinor é a encarnação da prudência e do decoro.
✔ Pigmalião, de George Bernard Shaw
O Pigmalião da mitologia antiga apaixona-se pela estátua que ele próprio esculpiu. A peça Pigmaleão, de Bernard Shaw (1856 – 1950), conta a história de Eliza Doolitle, uma vendedora de flores ambulante na Londres do início do século 20. Sua linguagem é uma afronta à língua inglesa, seu vocabulário, paupérrimo e de baixo calão, e sua pronúncia, uma desgraça. Um eminente fonético impõe a si mesmo um desafio: reeduca-la e faze-la passar por uma dama da sociedade.
O pai de Eliza é um preguiçoso, chantagista, bêbado, e alguém orgulhoso de sua falta de ética e ambição. Quando ele descobre que sua filha está sendo mantida na casa de um homem estranho, tudo que ele quer é uma pequena recompensa de Higgins, o suficiente para mergulhar na bebida por um dia ou dois. Mas esse é apenas o início dessa comédia deliciosa em que o autor denuncia as diferenças sociais e de classe.
✔ A Revolta de Atlas, de Ayn Rand
Na mitologia grega, o titã Atlas recebe de Zeus o castigo eterno de carregar nos ombros o peso dos céus. Neste clássico romance de Ayn Rand, os pensadores, os inovadores e os indivíduos criativos suportam o peso de um mundo decadente enquanto são explorados por parasitas que não reconhecem o valor do trabalho e da produtividade e que se valem da corrupção, da mediocridade e da burocracia para impedir o progresso individual e da sociedade.
Ou seja, enquanto outros trabalham duro para construir grandes coisas, um grupo simplesmente senta-se, sorri, esfrega as mãos e se beneficiam de sua própria inaptidão.
✔ O Hobbit , de JRR Tolkien
Os hobbits são seres muito pequenos, menores do que os anões. São de boa paz, sua única ambição é uma boa terra lavrada e só gostam de lidar com ferramentas manuais. Este livro tem como personagem central o hobbit Bilbo Bolseiro. Ele vive muito tranquilo até que o mago Gandalf e uma companhia de anões o levam numa expedição para resgatar um tesouro guardado por Smaug, um dragão enorme e perigoso.
Os dragões são as mais preguiçosas das criaturas míticas. Smaug , e outras feras aladas como ele, encontram um tesouro, sentam-se sobre ele e tiram um cochilo de dezenas ou centenas de anos. E só porque eles são enormes, escamosos, cuspidores de fogo e podem atacar a partir do céu, fica meio complicado para os homens (ou anões, elfos, hobbits, magos, etc) pegar suas riquezas de volta. Mas nós sabemos que no fim, uma vida de preguiça raramente é recompensada.
✔ Canoas e Marolas, de João Gilberto Noll
Na ilha, há um rio caudaloso e encorpado. Há um menino com jeito de índio, a vagar pelas ruas. E há um homem em busca de Marta – a filha desconhecida. São estes os elementos que o talento de João Gilberto Noll combina para construir sua narrativa sobre a preguiça. No seu texto de incomparável poesia, Noll dá um novo tratamento ao tema, mostrando o mais indolente dos pecados capitais como uma grande metáfora do desalento e apatia do homem contemporâneo.
Escrito durante um período de isolamento em uma ilha de Santa Catarina, essa é mais uma obra do autor já conhecido por confrontar o leitor a convenções sociais estabelecidas, em obras incomodativas. Deve mesmo ser muito difícil escrever sobre a preguiça, ainda mais de encomenda.
✔ Da Preguiça Como Método de Trabalho, de Mário Quintana
“A preguiça produtiva é na verdade o método de trabalho da poesia”, escreve Quintana. Ela cria o tempo lento – observador, reflexivo, imaginativo – que possibilita o nascimento (ou renascimento) tanto do poema quanto da conversa inteligente entre amigos. O elogio do poeta à preguiça combina-se à rejeição de qualquer discurso grandiloquente.
Trata-se de um espaço-tempo antieconômico e antiutilitário, que permite o abalo no bom senso, abrindo novos horizontes de percepção, dentro do devaneio, da insônia e do sonho. Buscar uma ética da simplicidade é tão forte para o poeta que ele chega a desejar um mundo em que o espaço poético fosse povoado apenas por autores anônimos. No entanto, este é um livro em que a assinatura singular de Quintana apresenta-se em potência máxima, expondo suas múltiplas ramificações, assim como desvendando suas próprias condições concretas de existência e sua rede de relações intelectuais e afetivas.