A fábula quase heroica de um vagabundo falador
Depois que a garrafa de Salton já estava pela metade, bateu aquela
vontade (bem típica de alguns bebuns) de falar com todo mundo.
vontade (bem típica de alguns bebuns) de falar com todo mundo.
– Alô, Pitz é você?!
– Fala Moura seu puto, vagabundo, ordinário!! O que você está
fazendo aí? De certo está coçando a bunda e o ovo esquerdo..
fazendo aí? De certo está coçando a bunda e o ovo esquerdo..
– To trabalhando animal, esperando pra ser atendido aqui na loja
de um dos clientes..
de um dos clientes..
– Saquei.. Tá calor aí?
– Não… São Paulo no inverno é fresquinho.
– Vá se foder.. Estou brindando em sua homenagem.
– Tenho que desligar, depois a gente se fala.
– Vá se lascar. Até mais ver.
Vejamos quem mais eu posso importunar agora…? Pensava e
procurava na agenda os números todos, na esperança de alguém vivo para passar o
tempo trocando algumas palavras de hipocrisia, qualquer coisa.
procurava na agenda os números todos, na esperança de alguém vivo para passar o
tempo trocando algumas palavras de hipocrisia, qualquer coisa.
– Allan??
– Oi Laurinha!! E aí, tudo maré mansa?
– Está bêbado?
– Nunca! Só tomei o meu vinho da tarde.. E aí, muito trabalho na
redação?
redação?
– Sim, até demais, o meu chefe é um escroto..
– Quer te comer?
– Acho que sim.
– Vai liberar para ele?
– Não!
– Faz bem.. Faz muito bem.
– Quer que eu libere pra você é?
– Agora não, antes eu queria sim. Já quis muito transar de novo
contigo… Muito mesmo.
contigo… Muito mesmo.
– Que horror.. Tá apaixonado agora, né doutor solidão?
– Sim, to com tudo pra ser corno de tão apaixonado. Uma droga.
Como diria o velho safado ‘o amor é um cão dos diabos’.
Como diria o velho safado ‘o amor é um cão dos diabos’.
– Ih, gatinho, lá vem o babaca… Vou desligar. Segura a onda do
vinho aí tá. Beijão.
vinho aí tá. Beijão.
– Tá certo Laurinha. Beijão!
O que fazer se todos os seus amigos trabalham em tempo integral..?
Uma parte deles chega do trabalho e ainda cuida da casa, dos filhos, das
contas, da porra toda… E você tem 31 anos e ainda vive de bicos e livros, a
conta bancária quase sempre no negativo, o carro velho se desmontando em cada
lombada.. O vinho me alegra falsamente a solidão, mas é na solidão do sonho que
me vejo vivo, e me vejo vinho.. Trabalhar em tempo integral? Talvez.. Casar?
Talvez… Mais vinho? Certamente. Casar… Sim, talvez.
Uma parte deles chega do trabalho e ainda cuida da casa, dos filhos, das
contas, da porra toda… E você tem 31 anos e ainda vive de bicos e livros, a
conta bancária quase sempre no negativo, o carro velho se desmontando em cada
lombada.. O vinho me alegra falsamente a solidão, mas é na solidão do sonho que
me vejo vivo, e me vejo vinho.. Trabalhar em tempo integral? Talvez.. Casar?
Talvez… Mais vinho? Certamente. Casar… Sim, talvez.
– Pitz… O que você quer?
– Porra, que alegria na tua voz Geraldo!
– Estou no escritório..
– Já saquei.. senti o cheiro de bunda suada na cadeira aqui de
longe..
longe..
– Vá pro inferno..
– Estou nele, meu amigo! Estou nele! Diz aí, qual a boa de sexta?
– Descansar e curtir com a minha noiva. Você não está namorando
agora?
agora?
– Estou sim..
– Então vá encher o saco dela.
– Tá certo.
O Geraldo tinha razão… Liguei para a minha garota e o papo fluiu
por duas horas.. Fiquei até sabendo que o homem basicamente não descende do
macaco, entre outros papos muito loucos que só uma cientista doida (e genial)
consegue conduzir. Enquanto ela falava e falava e falava eu agradecia de
coração ao anjo maluco que a trouxe. Espero que fique.
por duas horas.. Fiquei até sabendo que o homem basicamente não descende do
macaco, entre outros papos muito loucos que só uma cientista doida (e genial)
consegue conduzir. Enquanto ela falava e falava e falava eu agradecia de
coração ao anjo maluco que a trouxe. Espero que fique.
(Primeiro texto de 2014.. mais um ano de coluna invisível pela
frente!)
frente!)