A fábula do cara que só abria a boca quando não tinha certeza

POSTADO POR: admin sex, 26 de julho de 2013

Vai falar sobre o quê?
Três horas da madrugada e eu ainda estava debruçado sobre o teclado, ponderando
se valia a pena ou não beber a última caneca de vinho da jornada. No começo
pensei estar em busca de criatividade como já ocorrera antes (não só comigo, eu
garanto a vocês), mas depois percebi que a questão de dois anos para cá não é
mais ser criativo ou não. A grande questão é: falar sobre o quê? 
Há uma curva
no caminho do artista onde ele questiona o motivo e a existência de sua arte.
Se para o entretenimento das pessoas existe todo um maquinário midiático, e o
que vende está aliado (geralmente) ao que se enquadra melhor na cena comercial,
escrever sobre o quê?
Hoje percebo a escrita profissional, depois de tantas publicações e
experiências, como um grande desafio mental. 
Se você escreve para chegar perto
da escrita de seu ídolo, parabéns. 
Se você escreve para ganhar um rótulo de intelecto
dos amigos, parabéns. 
Se você escreve pensando em status quo e comercial,
parabéns. 
Parabéns, pois vocês sabem melhor o que querem da escrita do que eu.
Quando em meus textos decido abordar o “escritor”, gosto de pensar nos loucos que
ainda vivem pelas ruas caóticas vislumbrando sua próxima página visceral, sem
compromisso maior que escrever tais páginas. Quando em meus textos a palavra ‘escritor’ surge, quero pensar que ele está lá na pracinha onde o Diabo esteve
apertando as mãos de Deus depois da peleja, e vem ele desmiolado trazendo um
caminhão de flores e sorrisos extraídos de lugar nenhum. O escritor já não pode
voar sem dizer o modelo de seu avião, e necessariamente precisa ser avião, e necessariamente
precisa ser identificado no radar. Onde está o abstrato na realidade vigente,
sem contar a política dos imbecis?! A criação literária não é difícil, jamais,
difícil é conseguir fazer algo além das palavras comuns. Difícil é dar de comer
ao cérebro doente que já se alimenta sem perceber. Difícil.
A Cândida me disse que preciso fazer assim oh: 
– Publique um livro para
o público e outro para você!
– Um para vender e outro para existir?
– Isso!
– Pode ser…
Mas não tive coragem. A minha necessidade é continuar cavando nas minas
do subconsciente e entregando de bandeja… Jogando comigo mesmo um jogo que talvez
eu já não possa ganhar, mas assim é a vida… Mil juízes, uma bola, e longas
rodadas de um campeonato esquisitão (por vezes fabuloso) que costuma durar 80
anos.