A Fábula das formigas suicidas

POSTADO POR: admin sex, 23 de outubro de 2015

Ele acorda e passa um café forte. Fica sentado, na cozinha, encarando cada gota de café que vai caindo quente no bule de vidro. Está na merda. A cabeça dói e a vontade é continuar deitado, mas ele precisa levantar e seguir adiante. Diana, a cachorrinha, faz festa, mas sem receber a devida atenção volta a deitar-se no tapete surrado da sala. A TV sintoniza em um canal de notícias. A cabeça dói, o mundo gira. Mais café. Uma ducha. 

Nada parece ser fixo. Nada me passa aquela sensação infantil de eternidade. As coisas se vestem com muita brevidade agora, e não se tornam menos feias por isso, apenas breves.
Os adultos conduzem seus carros, seus interesses, seus julgamentos, seus impostos, suas razões, e razões, e interesses. O que você quer? Eu sempre pergunto isso de maneira silenciosa a cada pessoa que passa, e vou deixando a loucura real me conduzir aos poucos. Chegaremos a algum lugar? Sim. Sempre existirá um ponto final para qualquer processo, e com a loucura não é diferente.
Nos últimos meses as filas de emprego aumentaram, as pessoas andam mais devagar, reside no ar uma expectativa nova e estranha. Os pivetes me encaram e não me veem, isso é bom. Passam ao meu lado, furtam a bolsa de uma mulher bem vestida e correm. Ela grita por socorro. Eu acendo um cigarro. O centro da cidade é um formigueiro hostil, isso é regra, não se pode piscar. Com o tempo você acaba se acostumando ou vira estatística do Estado.
Ele se espreme para entrar na grande minhoca de metal que corta o asfalto, os olhares estão voltados para o chão, para o nada. Ninguém sorri. O calor é infernal. Não há espaço para movimentar mais que um dedo. Mais que um pensamento fugitivo.
– Pitz?!
Um cara me chamou, estava sentado e pediu para segurar minha mochila. Eu aceitei.
– Obrigado, camarada.

Não perguntei nada, nem o chamei pelo nome. Na verdade eu não tinha ideia de quem era aquele cara. O ônibus foi esvaziando e o lugar ao seu lado ficou vazio. Sentei e peguei minha mochila. Só então pude perguntar:
– A gente se conhece de onde, amigo?
– Você não me conhece não, eu lia tua coluna no DpM… Era legal pra caralho. Parou mesmo?
– Não.. A vida ficou meio fodida, só isso.
O cara se despediu e desceu no ponto seguinte.  Mais a frente o ônibus bateu na traseira de uma van. Tudo parado, palavrões, bate-boca, espera por outro veículo lotado.
Aproveito para escrever numa folha de caderno esse texto aqui.
O motorista da Van  é um paraibano enfezado e acabou de pegar uma barra de ferro, vai dar merda.