A Atoladinha do Metrô

POSTADO POR: admin seg, 11 de agosto de 2014

Por hábito, ela cheirou a própria calcinha antes de vesti-la. Gostava dos próprios odores e, principalmente, gostava de sentir cada centímetro do seu corpo limpo antes de praticar das suas sujeiras. Com alguns movimentos de cintura propositalmente sexys, entrou com graciosidade em uma calça preta justa que ressaltava sua bunda e delineava seu corpo de forma apropriada. Ajeitou o cabelo e fez a maquiagem em dois tempos, com uma praticidade que só a experiência poderia lhe facultar. Uma blusa linear escura como uma segunda pele por baixo, outra branca mais folgada por cima para disfarçar a barriguinha. Com detalhe para a estampa do Ramones em preto. Banda punk que a filha adora e ela não suporta, mas ficou tão feliz quando descobriu que a camisa da menina também lhe servia, que passou a usá-la depois que virou moda. Por fim, calçou suas botas de vinil em vinho e pôs-se de pé para conferir o resultado final do visual em um espelho de corpo inteiro. Achou-se pelo menos 20 anos mais jovem.
Lá fora o sol começava a dar as caras, e ela já estava pronta para mais um entediante dia de trabalho em uma mal falada repartição pública do estado.
Dona Laura, mulher divorciada de classe média, é mãe de dois filhos, mas olhando assim, ninguém dizia. Uma coroa enxuta, com tudo em cima, que, para um desconhecido na rua, podia facilmente ser confundida como namorada do filho mais velho, ou até irmã da caçula.
Não perdia a pose nem quando subia no ônibus sujo e mal conservado que a levava até a estação de metrô de Irajá, onde embarcava em uma longa viajem até o escritório no centro da cidade. E ansiosa feita uma adolescente que aguarda pela sua festa de debutante, ela esperava por esse que era o único momento de felicidade do seu dia.
Quando o trem chegou à plataforma, ela não se apressou em entrar e nem disputar lugar. Com muita paciência e educação aguardou até que todos se acomodassem no vagão antes de se enfiar de qualquer jeito por entre aquele apressado mar de gente. Lá dentro, esgueirou-se por entre os corpos de estranhos até encontrar um lugar estratégico para se posicionar. Ocupou um espaço diminuto, ao lado de uma senhora gorda que se derretia de suor e a frente de um rapaz que lutava contra o sono enfiado em um uniforme mal passado de um posto de gasolina.
Devidamente instalada, começou com sua prática.
Sem cerimônia, encaixou o lombo no torso do frentista que logo despertou de seu torpor. O homem tentou se esquivar, desviar, recuar, mas a lotação do metrô era máxima e ele não tinha espaço para fugir daquela bunda mal intencionada. Quanto mais se remexia, pior ficava a coisa. Dona Laura seguia seus movimentos como um predador que encurrala sua presa. Com tanta sofreguidão, não demorou, e logo o corpo do rapaz despertou pela segunda vez. E era tudo que ela queria, esboçou um sorriso e empinou-se toda para senti-lo. 
Estavam encaixados, engatados um ao outro feito os vagões que viajavam para seus respectivos trabalhos. Cada movimento do trem era exagerado e ampliado pelo rebolado de Laura. O pobre rapaz bem que tentou, mas não conseguia disfarçar a excitação entre as pernas e nem a preocupação em ser flagrado pelos outros passageiros naquele ato involuntário. A mulher tinha pelo menos o dobro de sua idade, mas exibia um corpo que contradizia tudo isso. Como última saída, voltou a fechar os olhos e fingiu que ainda dormia.
O sistema de som do trem anunciou a próxima estação, e Dona Laura soube que precisava descer. Antes de desencostar do jovem e sair do vagão, armou sua despedida. Contorceu o braço disfarçadamente, encheu a mão com toda a estrutura que havia erguido, fitou os olhos do frentista e sussurrou em seu ouvido.
– Seu tarado de merda. Eu vou te denunciar pra segurança do metrô!
Quando ouviu a ameaça, Venâncio abriu os olhos, ergueu a cabeça desesperado e tentou retrucar aquelas palavras,… Mas dizer o que? Quando deu por si, a mulher já estava fora do vagão mandando um beijo zombeteiro através do vidro da porta que acabara de fechar. O metrô partiu com o frentista pálido dentro dele, cagando de medo de ser preso na próxima estação. 
Por precaução encolheu-se por entre os outros passageiros, mesmo sabendo que seria relativamente fácil encontrar a única pessoa com uniforme de posto de gasolina em meio aos populares. Ficou ali, paralisado, e só conseguiu descer na última parada, duas depois da sua. 
Voltou o resto do trajeto a pé até o emprego, sem preocupação alguma com o tempo que demoraria. Precisaria mesmo desse prazo para pensar em uma boa desculpa para dar no trabalho sobre o seu atraso, porque a verdade, com certeza, o pessoal do posto jamais acreditaria.