A 2° Guerra Mundial vista por aqueles que não voltaram dela

POSTADO POR: admin ter, 21 de janeiro de 2014

Soldados Espectrais
Tenho
uma estória para contar. Nunca falei nada porque sempre achei que era coisa de
maluco, confesso que abrir o jogo me acalma. Combati na Batalha da Normandia,
durante a Segunda Guerra Mundial. A mais ferrenha de todas. A que decidiu o
futuro do mundo. Operação Overlord. Dia 6 de Junho de 1944. O número de navios
foi o maior já envolvido em um confronto. Em tese, possuíamos supremacia em
todos os sentidos, naval, aéreo e de soldados também.

Hitler
era um louco, e se houvesse ouvido os seus oficiais, os alemães ganhariam a
guerra. O líder alemão estava convicto de que desembarcaríamos em algum lugar
mais ao norte, em Calais. Isso fez com que enfrentássemos um número bem menor
de soldados que detinham uma quantidade de munição reduzida. E foi por
iniciativa do alemão Rommel, em minha opinião o mais competente oficial nazista,
que fora construída a famosa Muralha do Atlântico. A duras penas ele convenceu
Hitler de lhe conceder o investimento, mesmo que tardiamente. Tal fortificação
dava aos alemães grande poder de resistência em relação a nossas tropas,
precisávamos desembarcar e tínhamos pela frente, trezentos metros de praia cheios
de obstáculos chamados de porcos-espinhos e muito arame farpado, uma linha de
fogo mortal.
Estava
com os homens encarregados de tomar a praia de Omaha. Posso dizer que começamos
mal. Para que você entenda, no dia anterior nos serviram duas barras de
chocolate de café da manhã e capricharam no almoço, muita proteína e carboidrato.
Nunca vi tanta comida durante a guerra. Achava que estavam enchendo a barriga
da gente como premiação pela nossa morte. Certamente sabiam que haveria um
grande número de baixas. Um assalto fluvial é sempre delicado, ainda mais
quando você enfrenta soldados entrincheirados em fortificações de concreto
reforçado e armas letais como a metralhadora alemã MG42. Os filhos da mãe
conseguiram modificar o sistema de funcionamento do cilindro e isso disparava
mais balas do que um soldado pode imaginar ou contar.
O
plano dos nossos oficiais resumidamente era o seguinte, enviar um bombardeio
aéreo para destruir as fortificações alemãs. Porque tínhamos um problema, como desembarcar
os nossos tanques? Os ditos porcos-espinhos não mais que a dois metros um do outro,
fariam com que qualquer tanque tombasse por conta do grau de inclinação do
obstáculo em relação ao seu peso e sua altura do solo. Não era nada tecnológico,
mas muito eficaz na proteção costeira. E para piorar, o café da manhã e o
almoço farto fizeram com que os nossos homens enjoassem a bordo. Tínhamos de
desembarcar fracos e desorientados.

A
ordem era para que os aviões retardassem o lançamento de suas bombas o máximo
possível para que atingissem as fortificações nazistas e não as nossas tropas.
De imediato, o resultado foi catastrófico. Isso porque, retardar o lançamento
das bombas por poucos segundos significava errar o alvo, é uma lei da física,
velocidade x espaço percorrido.
As
metralhadoras dos desgraçados arrombavam a blindagem relativamente leve que
envolvia os nossos ainda experimentais tanques anfíbios, e isso causava
vazamentos que os transformavam em banheiras cheias de água com a ajuda do mar
revolto. Com a maré baixa, não podíamos alcançar a costa por conta do tamanho
de nossos navios que poderiam encalhar por falta de profundidade. Foi dada a
ordem para o desembarque da infantaria. Aí foi um caos, porque à medida que
chegávamos perto da praia e abríamos a rampa de desembarque, as metralhadoras
alemãs cortavam a gente ao meio como se fôssemos de manteiga.

Não
restou outra chance e fomos obrigados a fazer a única coisa que não devíamos
fazer: pular na água. Precisávamos contar com a sorte, porque qualquer disparo
a uma distância inferior a cinquenta centímetros de nosso corpo tornava-se
mortal. Além do mais, o nosso equipamento pesado fazia com que tivéssemos que
nos livrar dele para que não afundássemos como pedras. A cereja do bolo era o
risco de hipotermia. Resultado, ficamos com pouca munição. Isso era péssimo.
Com sorte alguns de nós conseguiam chegar até a praia e se esconder atrás dos porcos-espinhos.

As
primeiras duas horas de combate foram terríveis para as tropas aliadas. Nossos
comandantes deram a ordem para que os nossos encouraçados permanecessem em suas
posições e defendessem os navios de carga, só que a uma distância daquelas era
impossível destruir as fortificações nazistas. Eu vi amigos meus largando suas
armas. Andavam em pé pela praia, em estado de choque. O mar ficou vermelho de
sangue e a areia também, os nossos uniformes tornaram-se rubros.
Instaurou-se
um pavor tão grande que começamos a rezar abaixo de fogo inimigo pesado. Não
sei contar quantos morreram. Por todo o lugar que olhava eu via corpos. Então
um milagre aconteceu, e é claro que isso não é divulgado ou reconhecido pelas
autoridades. Mas a grande verdade é que os nossos soldados mortos começaram a
se levantar como vivos. Estes bravos espíritos invadiam as fortificações e
trocavam bala com os nossos inimigos a curta distância. Isso fez com que os
alemães desperdiçassem muita munição, afinal, como matar quem já morreu? Eu não
sabia o que pensar e atirava como louco, sem tentar entender ou deixar de rezar.

Os
abrigos nazistas logo começaram a silenciar. Em alguns deles, encontramos mais
de um palmo de sangue. Foi a nossa virada. Daí para frente, chutamos a bunda
dos alemães até Berlim. Sei que talvez, você não acredite em mim. Contudo, é
uma estória que eu não poderia levar para o túmulo. Se, ganhamos a porra da
guerra, foi graças aos corajosos soldados espectrais. Mas quem teria peito de sustentar a verdade, diante da imprensa mundial, não é mesmo?