6 motivos para um homem assistir a novela ‘Pecado Mortal’

POSTADO POR: admin qua, 05 de fevereiro de 2014

Não me entenda mal. Eu gosto de novela como todo bom brasileiro. Mas a fórmula anda tão gasta que a última que acompanhei com gosto foi ‘Avenida Brasil’, e antes dela só ‘Duas Caras’, e antes disso só mesmo as inesquecíveis novelas dos anos oitenta. Essa última então que acabou de acabar, eu acompanhei só através do bafafá gerado nas redes sociais e pelos comentários por parte inútil da imprensa. Afinal, quando se trata de Globo, não tem jeito, você não precisa assistir ao canal para saber o que está se passando na novela.
Mas enfim, aqueles que julgam as novelas como coisa de ‘mulherzinha’, devem ter tido os preconceitos reforçados após a exibição do polêmico beijo gay. E acredito que, cada vez mais, essa é mesmo a ideia que tal emissora pretende imputar em sua programação. Por uma questão de lógica empresarial, o público feminino somado ao público gay devem reunir, por alto, no mínimo uns 75% da audiência nacional. 
Ou seja, excluindo a figura masculina paterna padrão do seu público, as novelas aos poucos deixam de ter a cara de um programa ‘para toda família’ como gostam de afirmar.
Mas aos que restam dessa classe que não veem problema algum em ainda gostar de novelas (só acham as feitas atualmente uma porcaria), aos saudosistas com ‘Roque Santeiro’ (como eu), peço que deem uma chance para a novela ‘Pecado Mortal’ da rede Record.
Isso não é propaganda, é uma sugestão baseada em um gosto pessoal. Depois de tanto tempo, também nunca me imaginei acompanhando uma novela novamente. Ainda mais uma da Record. Mas nessa, Carlos Lombardi está fazendo valer a pena. Talvez essa nem seja a real intenção do autor, mas, particularmente, eu vejo ‘Pecado Mortal’ como um dos últimos vestígio de masculinidade na TV nacional (perdendo apenas para as mulatas semi-nuas das vinhetas de Carnaval).
Se você ainda duvida, e acha isso tudo uma tremenda bobagem, separei aqui alguns temas e valores abordados na novela que provam que ela pode salvar a dramaturgia brasileira,… Confira abaixo:
1.O Brasil como ele era.
A novela se passa no final da década de 70, mas tem muito mais a mostrar do que a ditadura militar da época. Afinal, nem só de militância política viviam os brasileiros naqueles tempos.
Na verdade o regime militar só serve mesmo como pano de fundo dentro dessa história, você sabe que ele está lá, mas sua presença não interfere em nada no desenvolvimento da trama. Pra variar, é bom saber que, apesar do momento delicado que o Brasil estava passando, a maioria das pessoas de bem tocavam suas vidas da melhor maneira possível, e não ficavam o tempo inteiro reunidos em ‘aparelhos’ tramando a ‘revolução’ contra o governo.
Eu que tive a minha infância vivida no Rio de Janeiro, mais ou menos na mesma época, me identifico muito mais com o Rio exibido em ‘Pecado Mortal’ do que outros tantos que já foram reproduzidos na Globo.
2. A Máfia do Jogo do Bicho

Se você é um ‘homem feito’, não acredito que vá dispensar uma boa história sobre a Máfia. Sim, a máfia ‘abrasileirada’ que é formada pelos cartéis do jogo do bicho. Mas ainda assim, o respeito, a hierarquia, o voto de silencio, a devoção pela família e todos os elementos que compõe um bom filme de mafiosos estão lá. 
Em uma passagem da trama, o autor chegou até a seguir, quase que a risca, o roteiro de ‘O Poderoso Chefão’ na parte em que o patriarca (também um italiano) é baleado em uma barraca de frutas e justo o filho que não se envolve nos negócios escusos da ‘família’ precisa assumir o comando do esquema enquanto o pai está em coma no hospital. Até a cena do restaurante com o revolver de cabo especial escondido no banheiro foi fielmente reproduzida.
E onde a máfia está envolvida, todos sabemos que há antigos valores masculinos a serem respeitados no lugar.
3. A relação entre irmãos.
Eu amo os meus irmãos. E se você tem algum, deveria sentir o mesmo em relação ao seu. E é por isso não entendo porque as novelas da Globo vem tornando as relações familiares cada vez mais frágeis. Principalmente a relação entre irmãos que sempre se abalam facilmente por qualquer coisa. Repare. Nas tramas da Globo os irmãos sempre se tornam inimigos mortais pelos motivos mais boçais, seja ciúme, favoritismo, herança, dinheiro (OK! Esse eu até entendo), ou porque um roubou o brinquedo do outro quando eram crianças em uma cena que foi mostrada num flashback. Ora, convenhamos. Se todo esse ódio novelesco explodisse cada vez que um irmão vacilasse com outro, teríamos que agir como na China e limitar a nação a 1 filho por casal.
Em ‘Pecado Mortal’ você vai encontrar a relação entre Otávio e Carlão que tem todos os motivos clichês dramatúrgicos para se odiarem, mas ainda assim, a fraternidade entre os dois é algo que merece ser ressaltado. Não tem mentira, desconfiança, falsidade, intriga, ou exame de DNA que interfira na amizade daqueles dois. Um entende as virtudes e limitações do outro, e suas diferenças só os aproximam cada vez mais.
4.Sem dicotomia na personalidade dos personagens
Ninguém é totalmente mal, assim como ninguém é a personificação das virtudes em pessoa. E isso fica bem explícito no enredo de ‘Pecado Mortal’. Motivo pelo qual você as vezes se flagra torcendo pelo êxito de um personagem de caráter duvidoso, simplesmente porque entende bem as razões de suas atitudes.
Eu acho que isso é um trunfo positivo que torna o final de uma novela totalmente imprevisível, já que alguns personagens tem tantos feitos notáveis para terminar em um final feliz quanto erros questionáveis para acabar em maus lençóis.
5.Mulheres lindas e de fibra

Nada de mocinhas choronas se lamentando pelos cantos. As mulheres de ‘Pecado Mortal’ não precisam ser salvas, pegam em armas e atiram muito bem. Quando se sentem ameaçadas, não procuram proteção masculina, sacam logo de um 38 da bolsa e resolvem a questão elas mesmas. Isso as torna até mais perigosas que os homens.
Além do fato de possuir lindas atrizes em papéis muito bem elaborados. Temos uma promotora de justiça durona casada com um bicheiro, uma enfermeira que faz stripper a noite, e outras personagens com motivações bem mais complexas do que a monótona ‘paixão desenfreada’ ou a tradicional ‘busca pelo filho perdido’.
Dentre essas, destaque para Paloma Duarte no papel de Dorotéia, líder de uma das famílias mafiosas de bicheiros.
BÔNUS
6.Um ‘quê’ de Nelson Rodrigues

Os órfãos das obras do Anjo Pornográfico poderão identificar muitos elementos ‘rodrigueanos’ em algumas cenas da novela. Além do cenário e ambientação que já favorecem uma suave referencia a inesquecível serie ‘A vida como ela é…’, o autor deixa qualquer polêmica sobre beijo gay no chinelo quando abusa de obsessões doentias, estupros, traições e até insinuações incestuosas no enredo da novela. Tudo que Nelson Rodrigues adorava abordar em suas crônicas.