5 Livros para ler se você gosta da série ‘Narcos’
Quando, no meio deste ano, eu fui convidado para participar de uma palestra de lançamento literário da Editora Planeta que contava com a ilustre presença do filho de Pablo Escobar e autor de uma recente biografia sobre o pai, não imaginava que pouco tempo após esse encontro eu seria arrebatado por essa série excepcional produzida pela Netflix sobre essa personalidade inconfundível na história do narcotráfico internacional.
Sem contar com grandes atores norte americanos em seu elenco, exibindo um marketing modesto, e até mesmo sem um público alvo bem definido, a vida do traficante Escobar foi ganhando adeptos aos poucos, assim como as drogas que vendia, no boca a boca. Diferente dos enredos ascendentes que formulam o formato tradicional de uma série, Narcos tomou um rumo difícil ao decidir mostrar um material áspero e decadente tendo como pano de fundo uma Colômbia corrupta e bem diferente do destino turístico que nos é vendido hoje em dia. Mas igualmente fascinante por outros pontos.
A boa notícia é que “Narcos” já teve a sua segunda temporada confirmada para 2016, e para ajudar na espera ansiosa até o retorno do Cartel de Medelim, preparamos aqui uma lista de livros que os fãs da série certamente irão apreciar.
Até a publicação desta obra, acreditávamos que tudo já havia sido dito sobre Pablo Escobar, um dos piores criminosos da história da América Latina. Mas os muitos relatos disponíveis sobre ele foram contados por alguém de fora, nunca a partir da intimidade do lar.
Mais de vinte anos depois da morte do chefe do Cartel de Medellín, Juan Pablo Escobar viaja em direção a um passado que não escolheu a fim de mostrar um lado inédito de seu pai, o homem capaz de chegar aos piores extremos de crueldade, ao mesmo tempo em que professava amor infinito por sua família. Este não é um livro de um filho que busca a redenção para seu pai, mas um relato estremecedor das consequências da violência (Editora Planeta).
✔ Os Informantes, de Juan Gabriel Vásquez
A distância entre um conflito mundial e um conflito entre pais e filhos é menor do que parece. Um conflito entre pais e filhos, assim como o outro, é um choque entre duas maneiras de ver o mundo: os filhos se ressentem da realidade recebida por seus pais, enquanto estes reclamam do que os filhos fazem com o mundo que receberam.
Juan Gabriel Vásquez lança mão desses dois universos, o do conflito maior, político e internacional, e o do menor, no âmbito familiar, para contar uma história cujo epicentro é uma traição e retratar o espinhoso caminho que separa a ignorância e o conhecimento dos fatos acerca das pessoas que nos são próximas.
A narrativa é estruturada sob dois eixos temporais: a Colômbia dos anos 80 e 90, em que a população vive amedrontada pelos cartéis das drogas – a partir de quando é contada a história – e a Colômbia das décadas de 30 e 40, época em que o país recebia levas de imigrantes europeus e quando alemães e descendentes de alemães estavam à mercê da perseguição política.
Os protagonistas chamam-se, pai e filho, Gabriel Santoro. O primeiro, um erudito viúvo, figura pública de prestígio na sociedade colombiana e professor de retórica. O segundo, um jornalista, autor de um livro sobre uma imigrante alemã judia – livro que fora inexplicável e publicamente destruído por ninguém menos do que o pai do autor. Após anos sem contato, um problema de saúde reaproxima os dois, mas apenas momentaneamente, pois as voltas da vida, assim como as da história, não tardam a perder os personagens, lançando Gabriel, o filho, numa dolorosa viagem sem volta em busca da verdade sobre o seu progenitor (L&PM).
✔ Zero Zero Zero, de Roberto Saviano
Não há mercado tão rentável quanto o da cocaína. Nem investimento financeiro de retorno mais rápido. A partir dessa constatação aterradora, Roberto Saviano mapeia o tráfico internacional da droga, mostra quem são seus personagens e revela suas conexões com a economia formal e o mercado financeiro.
Zero Zero Zero é a mais fina, pura e cara farinha de trigo, bem como a gíria pela qual os traficantes europeus se referem à cocaína de melhor qualidade. Em seu livro mais recente, Roberto Saviano traça um painel impressionante de como o pó branco liga as principais praças comerciais do mundo e impõe suas tenebrosas regras, seus códigos morais e exércitos, direta ou indiretamente, a todos nós.
Da Calábria ao México, da selva colombiana à Rússia, do Brasil às ruas de Londres e Milão, o premiadíssimo escritor italiano revela os segredos internos e as conexões deste que é possivelmente o mais lucrativo dos mercados globais, e demonstra o fato terrível de que ninguém escapa de seus tentáculos.
Ameaçado de morte depois de sua reportagem de fôlego sobre a máfia napolitana, a Camorra (livro posteriormente adaptado, com grande sucesso de bilheteria, para o cinema), Saviano vive há mais de oito anos em endereço desconhecido, sob vigilância cerrada, 24 horas por dia. Nesse período, ganhou intimidade com as polícias e agências de inteligência ao redor do mundo, que lhe franquearam acesso a informações privilegiadas para a redação de Zero Zero Zero. O resultado é não só uma radiografia da “grande corporação” da droga como uma reflexão profunda sobre a eficácia de um combate inglório a esse produto de demanda incessante (Companhia das Letras).
✔ Não Há Silêncio Que Não Termine, de Ingrid Betancourt
No ano seguinte, durante uma viagem de campanha ao único município governado por um prefeito de seu partido, a candidata – então mal colocada nas pesquisas – foi sequestrada por um comando das Farc, junto com diversos assessores e seguranças, num episódio até hoje mal explicado. Levada para o interior da selva em inúmeras viagens de barco, caminhão e marchas a pé, Ingrid se viu repentinamente desligada do convívio dos amigos e da família, isolada do mundo exterior em meio a guerrilheiros fortemente armados.
A autora de Não Há Silêncio Que Não Termine passaria mais de seis anos em poder das Farc. Sua visível agonia, documentada por cartas e “provas de vida” em vídeo, bem como sua libertação numa célebre e cinematográfica operação do Exército colombiano, em 2008, chamaria novamente as atenções do mundo para o conflito que atualmente ameaça a paz no continente Sul-americano. Este livro é o relato contundente de sua experiência como prisioneira da guerrilha narcotraficante, em meio à fome, à doença e às humilhantes condições impostas pelos sequestradores. Os momentos mais dramáticos de sua longa crônica de desventuras certamente são as desesperadas tentativas de fuga. Decidida a recuperar sua liberdade a qualquer custo, Ingrid tentou escapar diversas vezes, sendo invariavelmente recapturada pela guerrilha, faminta e perdida na selva (Companhia das Letras).
✔ Narcotráfico: Uma Guerra Na Guerra, de Thiago Rodrigues
As lutas entre “cartéis”, as ações policiais de repressão ao tráfico, as missões militares de combate às drogas, os debates sobre legalização e proibição, as facções do chamado “crime organizado”… A questão do narcotráfico deve ser uma das mais presentes e agudas da contemporaneidade. Ela conecta grupos transnacionais e gangues de rua, mobiliza exércitos e forças policiais, justifica intervenções militares e o endurecimento das leis penais, motiva a elaboração de tratados internacionais, movimenta a economia legal e ilegal, produz situações cotidianas de violência. O narcotráfico, no entanto, tem uma história que é pouco contada e que gera efeitos políticos e sociais pouco analisados.
Nesta obra, o autor procura apresentar essa diversidade de temas chamada “narcotráfico”, a fim de que se possa compreendê-la com mais clareza e senso crítico (Editora Desatino).
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