4 Tabus que ainda resistem na literatura atual

POSTADO POR: admin seg, 18 de agosto de 2014

Estamos no século XXI, é verdade. Mas isso não impede que a nossa sociedade ainda preserve diversos tabus que a envergonham. O tipo de coisa que só sabemos lidar de duas únicas forma, ou condenado, ou ignorando os fatos.

E se tem uma forma de expressão artística que historicamente coleciona quebras de tabus, essa é a literatura. Durante séculos, grandes escritores sempre bateram em portas lacradas e, sem pudor, exploraram em seus livros temas ousados que poucos tiveram a coragem de escrever uma linha sequer a respeito. Inspirados por esses pioneiros do intocável, selecionamos aqui algumas das raras obras que abordam esses assuntos que não deveriam ser discutidos em uma ‘sociedade civilizada’.
✔ Incesto
Invisível, de Paul Auster
Adam Walker recorda os acontecimentos da primavera e do verão de 1967, quando era um jovem poeta e estudante de letras na universidade de Columbia, Nova York. Quarenta anos depois, os fatos incontornáveis daquele ano, em que se vivia a Guerra Fria e a crescente oposição à Guerra do Vietnã, somam-se a eventos pessoais decisivos, que o vão acompanhar até o fim da vida. 
Ele rememora o estranho encontro em uma festa e a posterior relação tumultuada que desenvolve com dois estrangeiros: o suíço Rudolf Born, professor visitante de relações internacionais na mesma Universidade Columbia, e sua enigmática e sedutora companheira, a francesa Margot. O professor Born propõe ao jovem poeta financiar um projeto de revista literária, acalentando a ideia de ter sua biografia escrita por Walker. 
O rapaz fica intrigado com a rápida simpatia que desperta no casal, mas a oferta é boa demais para ser recusada. Aos poucos, porém, passa a desconfiar das intenções de Born, uma combinação de raivoso analista político, intelectual cínico e dândi espirituoso. 
Este livro é dividido em três partes, vamos nos focar na segunda, na qual Adam Walker vai morar com sua irmã mais velha, Gwyn. Ambos são dotados de extrema beleza, e se desejam. O autor descreve esses capítulos como se fosse o diário do personagem, descrevendo cenas de sexo tórrido entre os irmãos. Mas, para embaralhar a cabeça dos leitores, na terceira parte do livro, Gwyn nega o caso e diz que o sexo não passava de uma fantasia do irmão. Cabe a você decidir se acredita.
✔ Aborto
O Advogado da Vida, de Jean Postai
Quando começa o direito à vida? Essa pergunta fica quase impossível de ser respondida quando o médico Arthur Galanidel é preso por supostamente realizar abortos ilegais em sua clínica, inclusive em uma menor de idade. 
O advogado David é escalado para defender o caso, sofrendo a pressão da imprensa e da sociedade, que discutem se uma mulher tem ou não o direito de abortar e se o médico é ou não um criminoso. Será que David conseguirá convencer os jurados a inocentar o médico? Em quais situações é permitido a uma mãe optar por dar ou não à vida a seu filho? 
Neste emocionante thriller jurídico, as perseguições, tramas e provas são misturadas a todo momento, criando um romance fantástico, de tirar o fôlego. Tudo isso para, no final das contas, o caso ser julgado por sete jurados que decidirão onde começa e até onde vai o mais fundamental dos direitos: o direito à vida.
✔ Prostituição
As Senhoritas de Amsterdã, de Martine Fokkens
As garotas da vitrine Martine e Louise Fokkens, gêmeas idênticas nascidas na Holanda durante a Segunda Guerra Mundial, tornaram-se, ao longo de mais de 50 anos como prostitutas na capital do país, verdadeiros ícones do De Wallen – o famoso bairro da Luz Vermelha de Amsterdã. Com roupas sempre combinando entre si (compram tudo duplo), passaram a ser conhecidas dos moradores e comerciantes das redondezas: Louise, impetuosa e extrovertida; Martine, calma e tranquila; ambas têm filhos, além de serem avós e até bisavós.
Prostituíram-se (Louise primeiro) por volta dos 20 anos, quando já eram mães, incentivadas pelos maridos e pressionadas por necessidades financeiras. Aos poucos, livraram-se dos companheiros exploradores e dos cafetões e abriram seu próprio e pequeno bordel. Foram décadas de trabalho, de esforço para criar os filhos, de camaradagem com a gente do bairro, de personagens e clientes inusitados, mas também de mudanças: Louise e Martine testemunharam a chegada de prostitutas do Leste Europeu, o recrudescimento da violência e do uso de drogas, a legalização da prostituição na Holanda e, mais recentemente, as consequências das novas tecnologias que criaram vários tipos de concorrência, à boa e velha vitrine.
✔ Poligamia
A Vida Como Ela É…, de Nelson Rodrigues
Dispensa maiores apresentações. Já nos anos 1950, quando estrearam, essas histórias de ciúme, obsessão, dilemas morais, inveja, desejos desgovernados, adultério e morte atraíram os leitores, tornando-se um grande sucesso. De lá para cá, a popularidade dos contos de Nelson Rodrigues só fez aumentar com as inúmeras adaptações que sofreram, passando das páginas do jornal a programa de rádio, fotonovela, filme, peça de teatro e até série de televisão. Tamanho era o sucesso da coluna que, em 1961, o próprio autor fez uma seleção de cem contos para publicar em livro, incluindo ali narrativas que ficaram célebres, como A dama do lotação e A coroa de orquídeas, entre outras. 
Agora, nesta nova reunião, comemorativa do seu centenário, tentamos escolher textos tão expressivos e representativos de A vida como ela é… quanto os da primeira coletânea. E todos inéditos em livro. Aqui o leitor terá oportunidade de conhecer cem outros contos, que garimpamos nos dez anos de publicação da coluna no periódico Última Hora, inclusive o primeiro da série: O homem do cemitério.
Nessa coletânea, não apenas a Poligamia, mas diversos outros pudores humanos são explorados de forma genial pelo maior cronista que o Brasil já teve. É até provável que, devido a amplitude dos contos de Nelson, só esse livro já englobe todos os outros ‘pecados’ citados anteriormente.